Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana

Claudio Moura Castro

Por Claudio Moura Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Continua após publicidade

A doença das fake news

Com fatos associados a omissões, produz-se desinformação

Por Claudio Moura Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h05 - Publicado em 3 abr 2020, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • É incalculável o estrago que fazem as fake news, sobretudo em tempos de crise. Como tendem a ser mentiras deslavadas, porém, têm pernas curtas. Muito pior é a desinformação, quando aparece apoiada em casos reais. Somem-se dez dados verdadeiros e omita-se um. Basta isso.

    Notícia imaginária: um carro novo com um cidadão de bem choca-se com um carro velho, cujo motorista estava alcoolizado. O leitor que julgue quem foi o culpado. Mas faltou uma informação: o carro do bêbado estava estacionado. Esse é o perigo insidioso. Muitas verdades, nenhuma mentira, mas uma omissão. E, por vezes, basta insinuar a conclusão. Com essa receita, cozinham-se quaisquer inferências malévolas.

    Tomemos como exemplo real um programa sobre o coronavírus da Fox News (The Ingra­ham Angle), em um momento em que a política dos republicanos é minimizar o perigo. A jornalista cita um professor de Yale, mostrando inúmeras lacunas no conhecimento da pandemia. Mas deixa de dizer que, com os dados já existentes, os cientistas desenvolveram modelos confiáveis (e alarmantes) de predição. Menciona também que uma mulher, contaminada, conviveu com 373 pessoas e apenas uma contraiu a doença. Na ciência, um caso, no máximo, sugere uma pista. O que conta são as análises de dados — e eles confirmam que o número de novos doentes dobra a cada dois ou três dias, mesmo diante de contenção severa.

    “Somos iludidos pela manipulação de gravetinhos de ciência. Precisamos de clareza e ações enérgicas”

    Notou-se que há pessoas com imunidades naturais. É verdade, mas os que não as têm são suficientes para provocar uma catástrofe epidemiológica. A apresentadora afirma que não se sabe quem foi o “paciente zero” — uma inverdade, mas não é esse o ponto. A identificação não é essencial para quantificar a epidemia e lidar com ela. Em seguida, mostra estatísticas de várias epidemias do passado, mencionando que, praticamente, não houve vítimas americanas. Há dois erros, porém. O primeiro: ela cita o balanço de epidemias já superadas. E não faz sentido compará-las com uma que está em plena expansão no Ocidente. O segundo é omitir que, nas anteriores, as mortes foram estancadas por via de campanhas vigorosas.

    Continua após a publicidade

    Culpa dos chineses que escamotearam o problema lá no início de tudo? Sim e não. As autoridades provinciais, apesar da demora, bloquearam os acessos, interromperam as movimentações. O governo central promoveu ações exemplares — em que pese o vaivém da transparência. Imputar culpas não leva a soluções. Se a China financia a OMS, é nítido que suas declarações não foram manipuladas. E mais: os melhores cientistas não discordaram da postura chinesa do ponto de vista da saúde pública. Sub-­repticiamente, sugere-se que os cientistas estão perdidos. Perdidos estaremos nós, iludidos pela manipulação de gravetinhos de ciência. Precisamos de clareza, serenidade e ações enérgicas.

    Este meu artigo usa uma coleção de pecados da extrema direita americana para exemplificar pseudoanálises que podem ser de qualquer vezo ideológico. Com muitos fatos e algumas omissões, pode-se criar uma obra-prima da desinformação. E, no processo, agravar um desastre em curso.

    Publicado em VEJA de 8 de abril de 2020, edição nº 2681

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.