Protagonista do vídeo de um jantar regado a risadas e imitações do comediante André Marinho, o ex-presidente Michel Temer nega que o episódio seja parte de uma estratégia de marketing para a eleição de 2022. Poucos dias antes do tal jantar, o emedebista ressurgia como conselheiro presidencial e bombeiro da crise com o Supremo Tribunal Federal. E fazia circular vídeos institucionais nas redes sociais, defendendo o diálogo entre os Poderes.
O tal jantar, entretanto, logo o transformou em alvo da irritação no mais próximo de Bolsonaro, em especial dos filhos do presidente. Convidado de estreia do Amarelas On Air, novo programa de entrevistas de VEJA, o emedebista diz que houve uma “maldade”, já
que vários políticos – inclusive ele próprio – foram imitados pelo comediante. E, questionado sobre a influência dos filhos de Bolsonaro no episódio e no governo como um todo, afirmou que, em sua experiência, um presidente tem que ter opinião própria.
“Muita gente vem dar palpite. Acho que, muitas vezes, você vai tomar um caminho e você reformula esse caminho em face de um palpite que você ouviu. Mas você tem que ter uma direção, você tem que ter a sua opinião. E você pode, digamos, rechear a sua opinião com sugestões que façam. Mas você que ter a sua opinião própria. Se ele (Bolsonaro) se influencia ao ponto de ter uma posição e, se alguém lhe diz alguma coisa, ele muda imediatamente, não é um bom sinal”, afirmou Temer.
Ao comentar os atos de 7 de setembro, Temer descreveu o discurso de Bolsonaro como “inoportuno” e “inadequado”. Autor da carta que marcou o recuo do presidente nos ataques ao STF, ele criticou a discussão de um eventual processo de impeachment a essa altura do mandato. Ao defender a harmonia entre os Poderes, ele também criticou o que descreve como “ativismo judicial”. Mas considerou legítima a investigação de fake news e ataques ao Supremo.
“A liberdade de expressão é fundamental. Uma das liberdades fundamentais de nosso sistema. Agora, é preciso uma regulamentação, digamos assim. Veja bem, se a notícia é falsa, ela não noticia um fato verdadeiro. Se ela não noticia um fato verdadeiro, sobre não ser verdadeiro, ainda é agressivo em relação a instituições ou pessoas, tem que ser punida.”
Embora tenha insistido que uma candidatura presidencial não está “no horizonte”, Temer deixou em aberto o que poderá acontecer lá na frente. Questionado sobre eventuais apoios e sobre o papel que poderá exercer na corrida, pediu que a pergunta fosse refeita em maio ou junho do ano que vem. Dizendo-se menos convencido da possibilidade de uma terceira via, ele ainda endossou a ideia de que Bolsonaro poderia interferir drasticamente na disputa se desistisse da reeleição e apoiasse um nome de centro contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.