A cena de Jair Bolsonaro ladeado pelo empresário Luciano Hang, ocupando o lugar que deveria ser destinado a chefes de outros Poderes, dá a dimensão da apropriação do bicentenário da Independência pela campanha de reeleição do presidente. Nem mesmo o presidente da Câmara, Arthur Lira, fiel escudeiro de Bolsonaro no Congresso, apareceu no desfile de 7 de setembro em Brasília. Seu colega no Senado, Rodrigo Pacheco, preferiu se manifestar pelas redes sociais, pedindo que os atos sejam pacíficos.
A presença de Hang na Tribuna de Honra, um lugar tão nobre, é um recado claro de Bolsonaro a outro Poder ausente na cerimônia: o Judiciário. Afinal, ele foi um dos alvos da operação deflagrada com aval do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, contra empresários acusados de difundirem mensagens antidemocráticas em um grupo de WhatsApp.
Se Bolsonaro vai tentar manter ao menos em parte o script defendido por alguns de seus conselheiros, com um discurso mais ameno, ainda é cedo para dizer. Suas primeiras falas do dia, durante café da manhã no Palácio da Alvorada, já vieram recheadas de referências ao golpe de 1964, seguidas da tese de que “a história pode se repetir”.
Mas mesmo que o presidente não verbalize ataques diretos a instituições como o STF, a presença de Hang é por si só uma manifestação silenciosa. Que vem reforçada por mensagens antidemocráticas espalhadas por cartazes e faixas na Esplanada dos Ministérios, levadas por seus apoiadores.
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