Que dinheiro traz felicidade, todo mundo sabe. Já foi até mesmo cientificamente comprovado que quem ganha mais é, de fato, mais feliz. A novidade, relatada neste artigo do Wall Street Journal, é que ser feliz depende mais da maneira como gastamos nosso dinheiro do que de apenas ganhar dinheiro.
A explicação está baseada numa ideia explorada pela publicidade desde sempre: o que nos proporciona felicidade não são os bens em si, mas as experiências que podemos viver por meio deles. Daí a criação de propagandas com enunciados que sugerem, por exemplo, que quando você compra uma Ferrari não compra apenas um carro, mas adquire o prazer de poder pisar no acelerador de uma máquina super potente. No fim das contas, o dinheiro é um passe livre para os bons momentos da vida. E, ironicamente, para os maus também. Pois, segundo especialistas, alguns dos bens que compramos têm o potencial de piorar a maneira como gastamos o nosso tempo.
Pense em quantos momentos felizes você se lembra de ter vivido nos deslocamentos diários entre casa e trabalho. Provavelmente poucos. Ampliar a duração desses deslocamentos é algo que o deixaria mais feliz? Provavelmente não. Mas pouca gente pondera sobre isso quando considera trocar de endereço. E especialmente quando a troca consiste em migrar para uma casa mais espaçosa numa cidade próxima e mais tranquila –casa de onde é preciso partir todos os dias para rotinas de trabalho ou estudo que continuam baseadas na metrópole.
Segundo Elizabeth Dunn, professora de psicologia da canadense University of British Columbia e co-autora do livro Happy Money (Dinheiro Feliz, numa tradução livre), em vez de gastar dinheiro com um veículo super confortável para ficar horas no trânsito, é mais benéfico pagar por um lugar para morar perto de onde você trabalha e que lhe permita passar alguns momentos com seus filhos no final do dia. Segundo ela, são esses minutos a mais, e não o banco de couro do automóvel ou a bela casa aonde só se chega para dormir, que realmente podem proporcionar felicidade.
Os pesquisadores Alois Stutzer e Bruno Frey,da Universidade de Zurique, foram ainda mais longe. Constataram que, entre pessoas com o mesmo nível de renda e rotinas similares, as que demoram uma hora ou mais nos deslocamentos diários de casa para o trabalho são menos felizes do que as que fazem esse trajeto rapidamente. E mais: para que ambas sejam igualmente felizes, a que mora longe precisa ganhar pelo menos 40% a mais do que a que mora perto.
Dizem eles: “Deslocamentos diários são para muitas pessoas uma experiência demorada repetida cinco dias por semana. A viagem de casa para o trabalho e de volta é, portanto, um importante aspecto da vida moderna que afeta o bem estar e exige difíceis decisões sobre mobilidade e habitação (…) Tentamos explicar que há decisões baseadas em previsões errôneas sobre adaptação. As decisões sobre deslocamentos envolvem a complexa troca entre renda e alguma perda de tempo livre que é difícil de avaliar. (…) Para muitas pessoas, o estresse que os longos deslocamentos demandam não compensa”.
O raciocínio ajuda a explicar a decadência dos subúrbios americanos, que por décadas encantaram famílias de classe média e hoje sofrem um processo de abandono. A geração do milênio, jovens nascidos entre 1980 e 1990 (leia mais em posts anteriores aqui e aqui), preferem a facilidade de ter tudo por perto, a distâncias que podem ser percorridas a pé ou de bicicleta, do que a tranquilidade de um lar pacato, mas longe de tudo e dependente do carro.
Por Mariana Barros
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