“Éééé… Em cinco-oito foi Pelé; em meia-dois foi o Mané; em sete-zero, o Esquadrão; primeiro a ser tricampeão…” Pronto, os versos seguintes já estão na ponta da língua quase que por telepatia. A música criada pelo paulista Luiz Carvalho dos Santos Neto, administrador de empresas de 37 anos, tornou-se nesta Copa do Mundo a música mais popular em qualquer aglomeração de camisas do Brasil. Entitulada “Único Penta é o Brasilzão“, ela pode ser ouvida com frequência nos bares, praças e, claro, arquibancadas aqui da Rússia. Luiz é um dos líderes do chamado Movimento Verde e Amarelo, que tem coordenado as ações da torcida pela seleção em solo russo. Segundo o grupo, foi a solução encontrada para acabar com a falta de animação em jogos da equipe brasileira. “Era consenso nosso a avaliação de que torcida brasileira era horrível. Não era possível não termos outras músicas além do ‘Sou Brasileiro, com muito orgulho com muito amor’”, afirma Luiz, o porta-voz (quase sem voz, diga-se) do grupo.
O Movimento surgiu em tribunas bem menos importantes. “O Movimento é uma expansão da torcida que eu e meus amigos criamos nos tempos de faculdade”, afirma Luiz, egresso da Universidade de São Paulo e vascaíno doente. “Nós víamos nesses jogos universitários o quanto de energia a equipe em quadra ou em campo absorvia das arquibancadas. Torcida ganha jogo. Será que o 7 a 1 teria acontecido se tivéssemos uma torcida melhor?” Em 2008, inconformados com a falta de organização dos gritos dentro dos estádios em partidas do Brasil, o grupo de ex-estudantes decidiu levar os batuques dos jogos universitários para o Mundial seguinte, que seria realizado na África do Sul. “Para aquela Copa criamos outra música, que já está bem famosa, a dos mil gols do Pelé.” Se você, leitor, foi a algum jogo da seleção nos últimos anos certamente ouviu o hino que termina com uma provocação politicamente incorreta em relação ao ex-jogador argentino Diego Maradona. “A letra é de minha autoria, está até registrada na Biblioteca Nacional”, diz Luiz, que admite que não perdeu mais que um minuto para criar os seis versos de “Mil gols”.
Sem a adesão esperada na Copa disputada em casa – “Faltou organização, e a torcida que foi aos jogos não tinha o perfil de empurrar o time”, garante o Luiz –, o Movimento decidiu não poupar esforços para o Mundial da Rússia. Cerca de 20 membros, considerados da “diretoria” do grupo, pagaram a viagem até o país de Vladmir Putin do próprio bolso, sem ajuda de patrocinadores ou entidades ligadas ao futebol. Outros 50 agregados ajudaram a reforçar o coro. O esforço, garantem, é motivado apenas pela paixão pela seleção e pelo desejo de empurrar os comandados de Tite dentro do campo. “Nosso benchmark, por assim dizer, foi a torcida da Coreia do Sul, a Korean Red Devils, na Copa de 2002. Vai me dizer que a Coreia tem cultura de torcida de futebol? Mas todos no estádio sabiam as músicas, as coreografias. Sabiam a hora e o momento de apoiar o time. E, no meu entendimento, foi esse movimento que ajudou a seleção deles ir tão longe naquele Mundial.”
A vontade de ajudar a seleção é tamanha que o Movimento passou a organizar outro tipo de ação: receber com festa a delegação brasileira na porta dos hotéis na cidade em que o Brasil tem passado. Após o empate contra a Suíça na partida de estreia, o moral dos atletas estava um tanto baixo. Quem acompanha o time diariamente disse que a recepção oferecida em São Petersburgo, antes do jogo contra a Costa Rica, serviu como uma injeção de ânimo para os jogadores. Muitos deles postaram vídeos e fotos da festa da torcida brasileira em suas redes sociais. “A ideia deu tão certo que a levaremos a diante. Neste sábado, estaremos em Samara recebendo a seleção.”
Outro ponto alto da festa brasileira na Rússia foi a festa dentro de uma das lindíssimas estações de metrô da capital Moscou. O coro que começa num tom abaixo, com todos os participantes agachados, explode no refrão de “Brasil, olê, olê, olê.” O vídeo se espalhou com tamanha rapidez que logo após a vitória sobre a Sérvia estava nos principais telejornais do Brasil e do mundo. Luiz explica como se deu a farra. “Aquela imagem é de antes do jogo começar. Fizemos uma concentração num bar e decidimos fazer a caminhada até o estádio. Como era muito distante, tivemos que pegar o metrô para chegar até lá. Foi só assim que se reuniram tantos brasileiros numa só estação.”
Quem estiver na Rússia em busca de um grupo de brasileiros animados, com instrumentos musicais dignos de uma escola de samba, basta procurar o Movimento Verde e Amarelo nas redes sociais e descobrir onde será a próxima festa. A empolgação é garantida.
Conheça a íntegra da letra de “Único Penta é o Brasilzão”, de Luiz Carvalho:
Éééé… Em cinco-oito foi Pelé
Em meia-dois foi o Mané
Em sete-zero, o Esquadrão
Primeiro a ser tricampeão!
Ôôôô… noventa e quatro Romáriô
Dois mil e dois Fenomenô
Primeiro tetracampeão
Único penta é Brasilzão!
Ôôôô… Brasil olê, olê, olê! (4x)