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Loucos por Mustang: modelo lendário completa 60 anos

Do cinema às ruas, o ícone da Ford continua conquistando entusiastas que não o trocam por nenhum outro

Por Ernesto Yoshida
28 jun 2024, 06h00
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  • Um dos carros mais icônicos da história da indústria automobilística, o Ford Mustang fez 60 anos. Ele foi lançado em 17 de abril de 1964, durante a Feira Mundial de Nova York. No mesmo ano, fez sua estreia no cinema, no filme 007 contra Goldfinger. Desde então, segundo uma estimativa da revista Variety, o carro esportivo da Ford apareceu em mais de 5 000 filmes e programas de TV. Um dos mais célebres é o Mustang verde dirigido por Steve McQueen em cenas de perseguição policial pelas ruas de San Francisco no filme Bullitt, de 1968.

    O empresário paulista Marcelo Simionato, dono de uma importadora de matérias-primas para fertilizantes, sempre foi apaixonado por carros. “Meu pai era fã da Ford e tinha um Corcel vermelho com faixas pretas. Ele dizia que um dia trocaria esse carro por um Mustang, que era seu grande sonho”, lembra. “Cresci com isso na cabeça e assistindo a filmes americanos de ação com o Mustang.”

    Em 2011, Simionato importou dos Estados Unidos seu primeiro Mustang. Hoje ele tem uma coleção de sete exemplares. “Meus carros de uso diário ficam na rua, mas os Mustangs ficam bem guardados na garagem da minha casa”, afirma. Além dos veículos, a garagem reúne peças antigas e itens de colecionador, como placas de carros e de nomes de ruas, tudo relacionado ao Mustang. “São peças que fui comprando ao longo dos anos”, diz Simionato, que é presidente do Mustang Clube de São Paulo, uma associação de aficionados pelo carro da Ford.

    Bond girl: o primeiro Mustang apareceu no filme 007 contra Goldfinger, que estreou em 1964
    Bond girl: o primeiro Mustang apareceu no filme 007 contra Goldfinger, que estreou em 1964 (./Divulgação)

    Quando o Mustang foi lançado por iniciativa do então presidente da Ford Lee Iacocca, fez sucesso instantâneo. O modelo se diferenciava dos carros da época por sua silhueta longa e elegante, um design supostamente inspirado em aviões de combate, como o P-51 Mustang, da Segunda Guerra. Outro atrativo era o preço — começou a ser vendido por 2 368 dólares, tornando-se um veículo esportivo acessível para um público mais amplo.

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    Hoje o Mustang está longe de ser um carro barato. O modelo GT Performance 2024, lançado recentemente no Brasil, custa a partir de 529 000 reais. Nos Estados Unidos, esse modelo sai por 47 000 dólares. Ainda assim, é o bólido esportivo mais vendido no mundo, com mais de 10 milhões de unidades entregues em sessenta anos. “Se você comparar com um Porsche, uma Ferrari ou uma Maserati, o Mustang é o carro esportivo mais acessível”, diz Simionato.

    Seus sete Mustangs são de diferentes gerações. O modelo mais antigo é um Fastback 1965, enquanto o mais novo é um Shelby 2023. A coleção inclui também um Fastback 1968, o mesmo modelo que aparece no filme Bullitt. Simionato afirma não ter um xodó. “Como um bom pai, gosto de todos os filhos igualmente”, brinca o mustangueiro.

    Também apaixonada por carros, a empresária Angélica Cosentino, cuja família tem um comércio atacadista de máquinas industriais, ganhou o primeiro Mustang de forma inusitada. Em seu aniversário de 2011, o marido esqueceu da data e, para se redimir, presenteou-a com um Mustang Shelby GT de 550 cavalos, que ela já vinha namorando havia um tempo. “Eu sempre quis ter um Mustang, mas tinha que ser azul, com faixas brancas”, diz Angélica. Desde então, sua paixão pelo Mustang só cresceu. Ela buscou uma comunidade onde pudesse compartilhar esse interesse e encontrou o Mustang Clube de São Paulo. Determinada, Angélica superou as resistências iniciais e se tornou a primeira mulher aceita como sócia — o clube conta hoje com cerca de trinta mulheres entre os 800 membros. Para que seu marido também pudesse se tornar sócio do clube, o casal comprou mais um Mustang, um Mach 1 de 2023. E, há menos de um mês, adquiriu o terceiro Mustang, um GT 2006 conversível.

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    Fãs: presidente do Mustang Clube, Simionato tem sete; Angélica foi a primeira mulher a se associar
    Fãs: presidente do Mustang Clube, Simionato tem sete; Angélica foi a primeira mulher a se associar (Renato Megnis;/Arquivo pessoal)

    Angélica lamenta não poder dirigir um Mustang com frequência nas ruas de São Paulo. “Trabalhar de Mustang não dá, é um risco muito grande. E blindar um carro desses é pecado”, diz. No dia a dia, ela usa um Mercedes-Benz GLA 250 blindado ou um discreto Toyota Yaris. A empresária aproveita para pisar fundo no acelerador do Mustang nos Track Days, eventos organizados pelo Mustang Clube em pistas de corrida. Atualmente, Angélica é a diretora social do clube e procura envolver mais mulheres e famílias em encontros de entusiastas do carro.

    “Para mim, Mustang é quase como uma religião. Troco de carro a cada dois ou três anos, menos os Mustangs.” Sempre que viaja ao exterior, a empresária faz questão de alugar um Mustang. “Algumas locadoras tentam me empurrar um Camaro, dizendo que é um carro similar, mas eu recuso.” E o que o Mustang tem que outros carros não têm? “Não há dois Mustangs iguais. Cada um é diferente”, afirma.

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    Ela gosta de dar um toque pessoal a seus carros. “Andei mexendo em algumas coisas, como colocar um escapamento para ter um barulho mais gostoso. Também mudei o aerofólio do Mach 1, mas sempre mantendo a originalidade”, diz Angélica. No ano passado, foi convidada pela Ford para conhecer o Mach-­E, o primeiro carro elétrico da marca vendido no Brasil. “O carro tem o DNA do Mustang, mas para mim Mustang é com o motor V8. É estranho dirigir um Mustang tão silencioso.”

    Publicado em VEJA, junho de 2024, edição VEJA Negócios nº 3

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