Um estado de completo bem-estar físico, mental e social. É assim que, desde 1946, a Organização Mundial da Saúde define o que significa ser saudável. Os três aspectos estão interligados: sem conexões sociais estimulantes, é mais difícil preservar a saúde psicológica, e ambos estão apoiados nos cuidados com o corpo. É conhecida, por exemplo, a correlação entre doenças crônicas e o aumento da incidência de casos de depressão.
Mais recentemente, um novo aspecto tem sido acrescentado a essa equação: o bem-estar sexual, que também se conecta a todos os demais. “A saúde sexual está diretamente ligada à saúde física e mental”, afirma Laryssa Justo, psicóloga clínica, terapeuta de casal e sexóloga clínica e educacional. “A atividade física, por exemplo, ajuda a prevenir doenças crônicas, melhora a saúde emocional e contribui para o desempenho sexual. É uma abordagem multidisciplinar.”
Esse bem-estar envolve uma jornada de autodescoberta, que vai além das relações sexuais. Ao conhecer melhor o próprio corpo, as pessoas ganham em autoestima e, consequentemente, em saúde mental. A vida sexual ativa, por sua vez, impulsiona o bom humor, alivia o estresse e fortalece o sistema imunológico. Estudos demonstram, inclusive, que o sono se torna mais tranquilo e reparador.
Mas como preservar o bem-estar íntimo ao longo dos anos? O autoconhecimento e o diálogo entre os parceiros são importantes, diz Justo. “É preciso conversar sobre sexo, apontar o que agrada a cada um. Abrir novas possibilidades, utilizando lingeries, óleos, vibradores e jogos que incentivem o toque, contribui para diversificar a atividade sexual.” Nesse contexto, os sex shops desempenham um papel relevante. “Visitar em casal é recomendável, mas existe a opção de comprar on-line, com discrição”, diz a psicóloga.
Novas abordagens
A busca por alternativas para diversificar a atividade sexual e melhorar o bem-estar íntimo vem sendo apoiada por uma série de novos produtos. Como aponta a empresa britânica de análise de marketing Technavio, o mercado global de bem-estar sexual movimentou 46,5 bilhões de dólares em 2022 e deve ultrapassar os 113 bilhões de dólares em 2027.
A tendência chegou ao Brasil. De acordo com os dados mais recentes da empresa brasileira de marketing Cortex Intelligence, em 2022 existiam 1 068 empresas de bem-estar sexual em atuação no país, alta de quase 35% em relação ao ano anterior. E 51% delas são lideradas por mulheres — muitas são startups, as chamadas sextechs, dedicadas a repensar o prazer íntimo. Grandes varejistas têm criado áreas em suas plataformas on-line para comercializar produtos relacionados ao bem-estar sexual. E as maiores empresas do setor apostam na diversificação de opções e de pontos de venda.
A multinacional britânica de higiene, saúde e nutrição Reckitt, por exemplo, acaba de lançar, no Brasil e em outros mercados simultaneamente, um vibrador líquido vendido em farmácias. A nova linha conta com camisinha e gel para estimular a vagina — o gel é aplicado no clitóris e provoca sensações que aumentam a sensibilidade na região. “É importante democratizar o acesso a produtos que ajudem as pessoas a terem a liberdade de viver o bem-estar sexual”, afirma Mariana Bueno, diretora de marketing da divisão de saúde da Reckitt Comercial.
Nesse sentido, vibradores e lubrificantes, entre outros produtos, ajudam a levar a sexualidade para além do ato em si, diz Bueno. “Cada um tem necessidades próprias, maneiras diferentes de conhecer o corpo. As pessoas que passam por essa jornada tendem a se sentir melhor com elas mesmas e vivem a sexualidade e o prazer de outras formas.”
Publicado em VEJA, agosto de 2024, edição VEJA Negócios nº 5