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Augusto Nunes

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Ricardo Noblat: O último ato de Dilma

A presidente deve celebrar a sorte de cair antes de novas delações que acabarão por comprometê-la

Por Branca Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 22h02 - Publicado em 23 ago 2016, 07h59

Publicado no Blog do Noblat

A partir da próxima semana, fora a jabuticaba, haverá outra coisa para chamarmos de nossa: a presidente da República afastada por um golpe que comparece ao último ato do seu julgamento para se defender diante de golpistas. Se for absolvida, dirá que derrotou o golpe. Se for condenada, dirá que foi vítima dele. Em seguida, embarcará para uma temporada de férias no exterior porque ninguém é de ferro.

A única invenção brasileira reconhecida em fóruns internacionais é a duplicata mercantil. Data da época em que Dom João VI transferiu para o Rio de Janeiro a sede do império português. Nem o avião é reconhecido como uma invenção do brasileiro Santos Dumont que morava em Paris e que, ali, fez sua geringonça decolar pela primeira vez no início do século passado.

Na verdade, não há registro confiável de que a jabuticaba tenha primeiro brotado aqui antes de se espalhar por outros países de clima tropical. De forma tal que a presidente, capaz de acreditar na força dos seus argumentos para convencer os golpistas a não golpeá-la, poderá, e com justa razão, passar, sim, à História da política universal como algo originalmente brasileiro.

Não só a presidente. Também o golpe transmitido pela televisão e comandado no seu desfecho pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, a mais alta corte de Justiça do país. Previsto na Constituição que a presidente jurou defender, o golpe é chamado ali de impeachment, e serve para destituir do poder o governante que tenha cometido crime de responsabilidade.

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Dilma acha que não cometeu crime algum. E para abortar o golpe, valeu-se de todos os recursos lícitos e ilícitos. Empenhada em  preservar o mandato e seus direitos políticos, bateu à porta da Justiça algumas dezenas de vezes, sem sucesso. E também sem sucesso à porta de deputados e senadores oferecendo cargos, liberação de dinheiro para obras públicas e outras vantagens.

Poderia não ter feito nada disso uma vez que se tratava de um golpe, não de um processo de impeachment regulado pela Constituição e acompanhado de perto pela Justiça. Debitemos tamanho equívoco, porém, à sua ingenuidade. Deve ter imaginado que seria possível vencer o golpe participando ativamente de todas as suas fases. Não estava só.

Procederam igualmente assim todos os que a apoiam. Sua ida ao Senado, para depor e ser interrogada pelos senadores investidos da condição de juízes, será a prova definitiva para quem ainda carecia de alguma de que Dilma jamais foi alvo de um golpe. Como Fernando Collor não foi.

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Como Itamar Franco e Fernando Henrique não teriam sido, tantas foram as vezes que o PT quis derrubá-los pela mesma via usada para se derrubar Dilma agora. Collor caiu sob a suspeita de ser corrupto. Depois foi absolvido pelo Supremo, voltou à política e aliou-se a Lula e a Dilma. Está sendo investigado pela Lava-Jato sob a suspeita de ser corrupto.

Dilma cairá porque desrespeitou a Lei Fiscal e gastou muito além do que estava autorizada a gastar pelo Congresso. Deve celebrar a sorte de cair antes de novas delações que acabarão por comprometê-la. Na raiz da queda de Collor e de Dilma está a perda de apoio político para que seguissem governando.

Perderam apoio porque infelicitaram o país a tal ponto que as ruas se voltaram contra eles e, sob o ronco delas, os partidos. Demos graças a uma democracia tão repleta de defeitos como a nossa, mas mesmo assim capaz de garantir pelo voto a troca de governantes.

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