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Prejuízos decorrentes dos ‘feriados’ impostos pela inépcia do governo aumentam a gastança da Copa em mais de R$ 60 bi

Atualizado neste domingo, às 16h15 BRANCA NUNES O R$ 1,7 bilhão que transformou a Arena Mané Garrincha, em Brasília, num dos estádios mais caros do mundo, ou a bolada de R$ 1,7 milhão consumida no puxadinho construído para fingir por 90 dias que o aeroporto de Fortaleza ficou maior, vão parecer “dinheiro de pinga” – […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 5 jun 2024, 09h01 - Publicado em 25 Maio 2014, 17h15
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  • Atualizado neste domingo, às 16h15

    Dilma Rousseff e Joseph Blatter, presidente da Fifa

    Dilma Rousseff e Joseph Blatter, presidente da Fifa

    BRANCA NUNES

    O R$ 1,7 bilhão que transformou a Arena Mané Garrincha, em Brasília, num dos estádios mais caros do mundo, ou a bolada de R$ 1,7 milhão consumida no puxadinho construído para fingir por 90 dias que o aeroporto de Fortaleza ficou maior, vão parecer “dinheiro de pinga” – expressão cada vez mais comum entre os figurões federais – perto dos prejuízos decorrentes dos feriados impostos pela conjugação da inépcia do governo com as correrias da Copa prestes a começar. O país deixará de produzir pelo menos R$ 60 bilhões nos dias em que terá de parar porque é incapaz de mover-se normalmente quando a Seleção Brasileira entra em campo.

    A conta é tão simples que até Guido Mantega pode entender. Graças aos oito feriados de verdade que caíram ou cairão no meio da semana, 2014 terá um calendário de 244 dias úteis. Baseado no PIB de 2013 (R$ 4,8 trilhões), André Perfeito, economista chefe da corretora Gradual Investimentos, calcula que a perda por dia parado seja de R$ 19,7 bilhões.

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    Só na primeira fase da Copa, a seleção de Luiz Felipe Scolari vai paralisar o país três vezes. Embora o governo federal tenha feito de conta que não haverá feriados nacionais, feriados informais já foram programados por escolas, fábricas, empresas e órgãos públicos. Todos avisaram que, se não estiverem fechados o dia inteiro, depois do meio-dia até creches e pré-escolas onde os alunos mal aprenderam a falar gol, deixarão de funcionar.

    Os argumentos para justificar as interrupções das atividades vão desde questões logísticas com transporte até preocupações com segurança por causa de possíveis manifestações. Mas todas essas hipóteses convergem para mascarar a verdade solar: a inépcia do poder público não permitiu que o Brasil cumprisse o que prometeu. E a decretação desses “feriados” é a prova contundente de que as obras de mobilidade urbana não foram feitas. O país precisa parar pela simples razão de que não tem condições de andar.

    As contas feitas por André Perfeito indicam que nem mesmo as horas extras programadas por algumas empresas ou os possíveis lucros do comércio varejista com a venda de aparelhos de televisão ou geladeiras, conseguirão compensar o tempo perdido. O aumento de 30% nas vendas do comércio popular, esperado pelos comerciantes da Rua 25 de Março, em São Paulo, também serão infinitamente menores do que os ganhos que o país poderia ter com o Mundial.

    “Não é exatamente a Copa que faz crescer um país”, explica Perfeito, baseando-se num estudo feito com os países que sediaram os jogos nos últimos 30 anos. “O campeonato permite principalmente melhorar gargalos de infraestrutura, forçar o poder público a investir em determinadas áreas e gerar um potencial de crescimento para os anos seguintes. Este definitivamente não foi o caso do Brasil”.

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    Se depender dos esforços do governo, nem o turismo será alavancado da maneira como poderia. Além de ser um fato que os turistas brasileiros continuarão a gastar mais nas viagens ao exterior, os estrangeiros têm cada vez menos motivos para desembarcar por aqui. Numa de suas últimas entrevistas, Aldo Rebelo, ministro do Esporte, usou um argumento no mínimo esdrúxulo para tentar atrair para o país os visitantes preocupados com a violência: “Não creio que o Brasil vá trazer mais riscos para os ingleses do que o risco que eles enfrentaram nas províncias iraquianas, nas guerras que praticaram recentemente”.

    Se o Brasil tem muito o que lamentar, Joseph Blatter e outros dirigentes da Fifa estão rindo à toa. Uma reportagem publicada no Estadão desta quinta-feira mostrou que a renda da entidade com a Copa no Brasil ultrapassará a marca de US$ 4 bilhões, mais de US$ 800 milhões do que faturou na África do Sul em 2010.

    Também nesta quinta, números publicados na Folha de S. Paulo mostram que os gastos e os empréstimos dos governos federal, estaduais e municipais com os jogos somam R$ 25,8 bilhões. O valor equivale, por exemplo, a um mês de gastos públicos com educação e ao triplo do que se planeja torrar na transposição do Rio São Francisco. Só com estádios foram R$ 8,5 bilhões, 36% a mais dos que os iniciais R$ 5,9 bilhões.

    Em julho de 2010, o ex-presidente Lula disse, durante a Copa da África do Sul, que era “descabido alguém se preocupar com alguma coisa sobre a Copa de 2014″. “O Brasil vai investir em infraestrutura até 2014 o que não investiu em 30 anos”, delirou o palanque ambulante. “Se com tudo isso o Brasil não tiver condições de realizar uma Copa, volto ao país a nado”. Pouco depois, Lula voltou ao país. De avião.

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    A menos de 20 dias do início dos jogos, não há dúvida: vai ter Copa. Também está fora de dúvida que o que foi planejado para ser o grande acontecimento esportivo-eleitoreiro para 2014 não passará de um fiasco político-econômico.

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