Publicado em 8 de agosto
O início da Olimpíada comprimiu numa nesga do noticiário o recorde estabelecido pelo juiz da 7ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro horas antes da belíssima festa de abertura: Marcelo Costa Bretas sentenciou a 43 anos de prisão o vice-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear, condenado por corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, organização criminosa e embaraço à investigação. É a maior de todas as penas impostas até agora aos delinquentes desmascarados pela Operação Lava Jato e seus desdobramentos.
Uma dessas ramificações derivou da descoberta da ladroagem que, paralelamente ao grande assalto à Petrobras, sangrou em muitos milhões de reais o setor de energia, sobretudo o projeto nuclear. O esquema corrupto forjado por Othon, uma tropa de larápios e empreiteiros que acabaram encalhando no pântano do Petrolão funcionou anos a fio — e foi mais lucrativo do que nunca enquanto manipulou as licitações das obras da usina Angra 3. A denúncia contra o ex-presidente da Eletronuclear e seus 13 comparsas foi aceita pelo juiz Sérgio Moro em 3 de setembro de 2015.
O gatuno atômico mal disfarçou o entusiasmo quando, em 30 de outubro, o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, determinou a transferência do caso para a Justiça Federal no Rio. Longe da República de Curitiba, imaginou, as coisas decerto andariam mais lentamente. E talvez fosse julgado por um magistrado menos inclemente com meliantes cinco estrelas.
Errou feio. Já em 2 de dezembro de 2015, o juiz Bretas aceitou a denúncia contra os 14 acusados. E neste 4 de agosto, passados apenas oito meses, puniu com histórica severidade o comandante do bando e mais 12 envolvidos nas patifarias. Talvez fosse mais sensato ter continuado em Curitiba, aprendeu Othon: a maior pena aplicada por Sérgio Moro desde o começo da Lava Jato puniu José Dirceu com 20 anos e 10 meses de prisão. Metade do tempo de gaiola fixado pelo juiz federal do Rio.
Os Moros são muitos, constatou o post publicado pela coluna quando Lula, um dia depois de pedir socorro à ONU fantasiado de vítima da perseguição do juiz de Curitiba, foi transformado em réu pelo juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal em Brasília. Estão por toda parte, e o caso do vice-almirante informa que alguns podem ser mais rigorosos que o original. Esses presságios recomendam a Lula ordenar aos seus advogados que reescrevam o documento enviado à ONU.
Em vez de atribuir todas as estações do calvário que percorre a Sérgio Moro, deveria declarar-se perseguido por todos os juízes, todos os promotores, todos os procuradores, todos os delegados e todos os agentes da Polícia Federal — fora a imprensa reacionária, a elite golpista e os loiros de olhos azuis. E também não custa registrar já no primeiro parágrafo que, com exceção desses cruéis perseguidores, os demais brasileiros sabem que ninguém é mais honesto que ele, nem existe no planeta viva alma tão pura.
O único risco é a comunidade internacional compreender que Lula sempre dividiu o mundo em duas tribos. Uma reúne os seus devotos. A outra é um bando de idiotas.