Os resultados do 2º turno da eleição suplementar para o governo do Amazonas, realizada neste domingo, produziram uma pedagógica antecipação do quadro que será desenhado com impiedosa nitidez pelas eleições de 2018. Dos 2.338.886 cadastrados, quase 600 mil nem apareceram para votar, outros 300 mil anularam o voto e mais de 70 mil votaram em branco. Tudo somado, cerca de um milhão de eleitores deram as costas à disputa entre os ex-governadores Amazonino Mendes, do PDT, e Eduardo Braga, do PMDB.
De volta aos palanques ao fim de um recesso de quatro anos, Amazonino elegeu-se com 780 mil votos. Devolvido ao Senado pelo despejo de Dilma Rousseff, a quem serviu como ministro, Eduardo Braga amargou a terceira colocação: com pouco mais de 530 mil votos, perdeu de longe para a abstenção. E tanto o vencedor quanto o vencido foram humilhados pelas cifras que traduziram a indiferença, o menosprezo ou a franca hostilidade do eleitorado às alternativas que representaram exemplarmente o Brasil antigo.
Amazonino tem 77 anos, Eduardo Braga, 56. Confrontados com o país sensivelmente modificado pela Lava Jato, parecem contemporâneos dos homens das cavernas. Outras relíquias jurássicas foram despachadas para o museu da política já no 1º turno. O candidato do PT, por exemplo, entrou na campanha porque Lula ordenou ao partido o lançamento de uma chapa própria. Conseguiu 12% dos votos. O palanque ambulante não foi visto uma única vez perambulando pelo Amazonas.
Como o eleito governará o Estado por menos de um ano e meio, os descontentes optaram pela omissão. As coisas serão diferentes em 2018. Milhões de brasileiros entenderão que é preciso aposentar nas urnas os velhacos de todas as idades que só mortos desistem da disputa pelo poder. O velho Brasil está agonizante, mas o novo ainda não nasceu. Faltam 13 meses para um dos mais importantes outubros da história republicana. É tempo suficiente para a consumação dos trabalhos de parto.