O selvagem ataque pelas costas sofrido por Neymar reduziu dramaticamente a onda de esperança provocada pelo desempenho do Brasil contra a Colômbia. Nesta sexta-feira, sobretudo no primeiro tempo, a Seleção enfim justificou o S maísculo que a distingue de todas as outras. Ninguém chorou ao som do Hino Nacional, ninguém sucumbiu à insegurança. O capitão Thiago Silva deu um pontapé na angústia que o fez capitular na hora do pênalti contra o Chile, reassumiu o comando e desbastou o caminho da vitória. Desta vez, ninguém se escondeu atrás dos adversários para fugir da bola. O medo foi substituído pela altivez.
O time de Felipão é claramente inferior aos que fizeram do Brasil o único a ganhar cinco vezes a Copa do Mundo. Mas a distância abissal foi encurtada no embate com os colombianos. Volantes e armadores reapareceram no meio de campo, e a ocupação do estratégico espaço despovoado desde a estreia dispensou os torcedores de envergonhar-se com um Brasil desfigurado por chutões para a frente, bisonhas ligações diretas e chuveirinhos sobre a área defendida pelo adversário. O que se viu nesta sexta foram passes ou lançamentos precisos. A bola que não parava de viajar pelos ares finalmente rolou nos gramados.
Zagueiros bloquearam, saíram jogando, até fizeram os dois gols. Atacantes marcaram o inimigo sob pressão e acuaram o inimigo. O centroavante Fred redescobriu que não é proibido deslocar-se além das fronteiras da pequena área. Permanentemente vigiado por mais de um colombiano, Neymar não brilhou. A performance coletiva compensou a pouca luminosidade do maior craque brasileiro, expulso do campo e da Copa pela agressão criminosa de Zuñiga. A poucos minutos da consumação da derrota que apressou-lhe a volta para casa, o delinquente colombiano mandou Neymar para o hospital. Não foi punido sequer com um cartão amarelo.
Em 1962, o Brasil perdeu Pelé já no segundo jogo e ainda assim ganhou a Copa do Chile. Mas o reserva do gênio era o bravo e talentoso Amarildo, que Nelson Rodrigues apelidou de O Possesso. Continuavam na Seleção quase todos os craques que haviam triunfado na Suécia. E havia um Garrincha pronto para viver o mais fantástico capítulo de vida incomparável.