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Helio de La Peña, no Roda Viva: “Rolou censura na Globo”

O humorista falou, entre outros assuntos, de humor, política e preconceito

Por Augusto Nunes Atualizado em 16 jan 2018, 17h19 - Publicado em 16 jan 2018, 15h20
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  • O humorista Helio de La Peña foi o convidado do Roda Viva desta segunda-feira. Formado em engenharia, ele abandonou a profissão logo no início da carreira e acabou por transformar-se num dos grandes nomes do humor nacional. Entre os programas dos quais participou, estão TV Pirata, Doris para Maiores e Casseta & Planeta. Confira trechos da entrevista:

    “Existe hoje um problema de interpretação de texto. As pessoas querem verdades absolutas em temas que são subjetivos. Tem que ser um pouco mais relaxado, ter humor e aceitar que haja diferentes visões sobre o mesmo assunto”.

    “No Brasil, a questão racial está relacionada também ao tom da pele. Os negros mais claros sofrem menos preconceito que os mais escuros. Assim como o cabelo. Tem gradações para saber quem está mais perto ou mais longe do branco. Muitas pessoas criticam o Pelé quando ele diz que não sofreu racismo, mas quando você é uma figura pública tudo muda. Quando me reconhecem, o tratamento é outro”.

    “A melhor maneira de você formar um ateu é colocá-lo numa escola católica. Chega uma hora que não é mais possível levar aquilo a sério. Mas estudar no colégio São Bento, morando na Vila da Penha, me deu uma ambição, uma vontade de morar nos mesmos bairros que meus colegas, frequentar os mesmos lugares. Foi quando percebi que teria que correr atrás”.

    “Não duvido dos ganhos de quem se beneficiou com o sistema de cotas, mas sou favorável a uma cota social, independente da cor. Por que o meu filho, que estuda num colégio de elite, pode ser beneficiado por um sistema de cotas e o filho da minha empregada, que é branco, não pode?”

    “Não sei se este é o pior momento da história do Rio, mas estamos voltando aos piores tempos. Alguns amigos sempre disseram que as UPPs eram cosméticas, porque temos 40 delas e mais de mil favelas. Mas na Zona Sul e em outros locais turísticos a sensação de segurança tinha melhorado. Hoje, o problema maior é que o estado está acéfalo, não é só a questão da segurança”.

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    “A internet fez com que todos pudessem fazer humor. O Porta dos Fundos chegou para elevar o nível do humor na internet e mostrou a importância do roteirista”.

    “No cinema, a comédia começou a atrair um público muito grande, com artistas globais. O problema não é ter excesso de comédias, mas a falta de outros gêneros”.

    “Rolou censura na Globo. Chegou uma época que não podíamos mais fazer paródias com comerciais. Depois, veio a questão política. Desde o mensalão, começamos a ter problemas para fazer comédia política, porque diziam que a gente estava fazendo piada a mando dos Marinho”.

    “Fomos perdendo liberdade para fazer o nosso trabalho. A Globo queria ter liberdade no jornalismo e achou que era um exagero que nós também tivéssemos aquela liberdade. Chegou uma época em que até os autores de novelas estavam ficando incomodados com as nossas piadas”.

    “A diferença do Casseta para o Monty Python, entre várias outras, é que eles são donos do próprio legado. Se quiséssemos fazer um canal no YouTube, com os nossos programas, teríamos que pedir autorização à Globo”.

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    “O MBL tem todo o direito de ter opinião sobre o que for, mas o grande problema no caso da exposição do Queermuseu no Santander foi que uma instituição privada cedeu às pressões de um grupo. Talvez eles não tenham tido o cuidado de colocar um aviso na entrada ou reservado uma área restrita, mas eu perdi o momento em que ficou determinado que a arte tinha que ser só fofinha. Às vezes, a arte tem que representar um aspecto repugnante do ser humano. Essas preocupações com filhos normalmente vêm de que quem não tem filhos e está preocupado com o filho dos outros”.

    “A principal mudança da Vila da Penha para o Leblon foi na autoestima. Eu me sentia mais acuado. Ampliaram-se os horizontes e até o orgulho de ter vindo da Vila da Penha”.

    “Muito mais que as cotas, a solução está na educação. Este problema será resolvido em 20 anos, não em cinco. Será resolvido se colocarmos um colégio São Bento no Complexo do Alemão, outro na Rocinha, e assim por diante”.

    “Hoje, pode ser um problema se você faz humor e não pensa em quem está consumindo o humor. Mas ficar pensando muito nisso também pode cair numa autocensura. É preciso fazer a mediação entre a liberdade absoluta e quanto você tem para pagar um advogado”.

    A bancada de entrevistadores reuniu Marcela Paes (repórter do Estadão), Marcelo Madureira (humorista e comentarista do programa 3 em 1, da Jovem Pan), Paula Carvalho (apresentadora do programa Morning Show, da rádio Jovem Pan), Robinson Borges (editor de cultura do Valor Econômico) e Tony Goes (colunista de televisão e entretenimento da Folha). Com desenhos em tempo real do cartunista Paulo Caruso, o programa foi transmitido pela TV Cultura.

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