Publicado no Jornal do Brasil em janeiro de 1988 e retirado do Saite Millôr Online
MILLÔR FERNANDES
Parte VIII
TRECHO DO LIVRO: “Do antigo teso grande onde agora se localiza a cidade só restava um pé de tamboril, copudo, verde, de folhagens abertas, em frente à casa de D. Rosa Menina (1). Na época da safra (2) os moleques vinham e juntavam as favas chatas (3). Ali, antigamente, os veados deviam chegar (4) para a comida nas noites de Verão (5). Boa espera teria sido (6) aquele tronco onde agora ficavam amarrados os animais e a rancharia (7). Na cidade todos se conheciam (8) e o que se vendia eram os teréns de vestir e de comer, e um pouco de arroz (9), porque não era zona de arroz, mas de muito babaçu e farinha (10). Chamado dos Guajas (11) porque ficava próximo à aldeia dos guajajaras (12), hoje longes (13), perdidos, mortos e domados”.
ANÁLISE APENAS SUPERFICIAL: 1) A primeira e única vez em que Rosa é tratada de Dona. Logo o autor esquece, fica íntimo, Rosa pra cá, Rosa pra lá. A memória, como já se viu, não é o forte do autor. Mesmo a apenas duas frases de distância. 2) Safra de uma árvore só? Eta, arvorão! 3) Fava, por definição, é chata. Pode até ser redonda, mas é chata. 4) Deviam chegar ou chegavam? O autor tá aí pra dar informações, pô! 5) Veado só come em noite de verão? Seria a Ceia de Natal? 6) Teria sido? Pô, esse autor não tem certeza de nada? 7) Rancharia amarrada num tronco de árvore? Eta arvorão porreta! 8) Pudera não! 9) E arroz não é de comer? 10) Gente, no Brejal tem pé de farinha! 11) Sujeito oculto por elipse, e bota elipse nisso. 12) Por que Guajas com maiúscula e guajajaras com minúscula? Era uma tribo inferior? 13) Substantivo-advérbio já desclassificado na primeira eliminatória.
A SEGUIR. ERROS DE NOSSO PRÓXIMO CAPÍTULO: cacófatos, apedeutismos, lacunas, lapsus plumae, sobejidades, obscuridades, ambages, e a morte de um cachorro sufocado por uma conjunção adversativa. PLIM,PLIM!
(A coluna continuará a publicar nos próximos dias as três partes finais da hilariante análise de Millôr sobre o livro de José Sarney)