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Augusto Nunes

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Golaço de Bolsonaro, gol contra de Moro?

Moro tem de mostrar e comprovar que, para o grande objetivo de combate à corrupção, ele estará melhor no Ministério da Justiça do que em Curitiba

Por Eliane Cantanhêde
Atualizado em 30 jul 2020, 20h12 - Publicado em 2 nov 2018, 17h12
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  • Eliane Cantanhêde (publicado no Estadão)

    Golaço do presidente eleito Jair Bolsonaro, mas é cedo para saber se foi ou não um gol contra do juiz Sergio Moro, que não deixa para trás apenas seus 22 anos de magistratura, como disse na nota em que anunciou sua decisão, mas também um rastro de condenados prontos para questionar suas decisões no próprio Supremo Tribunal Federal que ele pretende assumir em dois anos. E um rastro também de perplexidade entre defensores da Lava Jato.

    Foi uma decisão dificílima, com importantes prós e contra. Pesou na palavra final de Moro não apenas a vaidade pessoal e a ambição por alçar os píncaros da carreira, ambas absolutamente legítimas, mas também a chance de ter uma super trincheira para combater a corrupção e o crime organizado, evitar retrocessos institucionais e práticos na Lava Jato e, para quem o conhece bem, até para criar mais um escudo de defesa do Estado de Direito.

    Para capturá-lo, Bolsonaro se dispôs a trazer a Segurança Pública e a Polícia Federal de volta para o Ministério da Justiça e transformá-lo numa das super-pastas do seu governo, ao lado de Economia e Infraestrutura. Sob Moro, estarão, além de uma PF revigorada, a Controladoria Geral da República e a Transparência, talvez até a Coaf, formando um aglomerado capaz de fiscalizar, prevenir e garantir a punição de grandes e pequenos atos de corrupção no setor público e o descontrole do crime organizado no País.

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    Tudo isso, porém, tem um alto custo para Moro, inclusive de imagem. O primeiro deles é que, ao aceitar a oferta de Bolsonaro, ele deu de bandeja todo o arsenal para a reação do PT e dos aliados do ex-presidente Lula, que amplificarão em muito a gritaria de “perseguição política”, “partidarismo” e “ilegitimidade”, senão “ilegalidade”, por exemplo, na divulgação de parte da delação premiada do ex-ministro petista Antonio Palocci num momento delicado da eleição. E, ao PT, irão certamente se somar hordas de políticos e poderosos atingidos pela Lava Jato, sem falar em seus advogados e fortes setores jurídicos.

    Moro estava preparado para isso, já escaldado pelas críticas e ataques, esteja onde estiver, de petistas, peemedebistas, pepistas e outros “istas” que provaram de sua pena implacável em Curitiba. Ele, porém, pode não ter contado com um outro tipo de reação, em outro tipo antagônico de público e crítica: o desapontamento, até desilusão, entre o dos defensores ardorosos da Lava Jato e dele próprio como símbolo maior de combate à corrupção. É nesses que ele precisa focar, para manter o maciço apoio da opinião pública e da sociedade para o seu, até aqui, muito bem-sucedido papel de limpeza das instituições.

    Para isso, o juiz corre contra o tempo. Ele tem que mostrar e comprovar que, para o grande objetivo de combate à corrupção, ele estará melhor e mais bem aparelhado no Ministério da Justiça do que na sua Primeira Instância em Curitiba, onde a Lava Jato, aliás, já deu o que tinha de dar. Se convencida de que valeu a pena, de que a vinda de Moro para Brasilia só aprofunda e aumenta o combate à corrupção sistêmica e enraizada, a maioria vai saber, mais uma vez, calar a minoria que grita a favor dos condenados e contra os juízes. Mas tem de ser rápido.

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