Até a semana passada, o “hiato” — termo pelo qual ficou conhecido o fenômeno — no aquecimento global era objeto de, por assim dizer, acaloradas discussões entre ambientalistas e céticos, assim denominados os que não acreditam que as mudanças climáticas sejam resultado da ação humana. Tal pausa teria ocorrido entre os anos de 1998 e 2012, período no qual, segundo cálculos de estudos diversos, a elevação da temperatura média mundial havia desacelerado até o patamar de somente 0,05 grau por década. Várias teorias científicas tentaram justificar o tal hiato. Seria um efeito do El Niño — a deturpação climática que aquece as águas do Pacífico — de 1997? Ou, quem sabe, estaríamos diante de um sinal de que as alterações não teriam influência humana, tratando-se apenas de consequências de ciclos naturais da Terra? De acordo com uma nova pesquisa divulgada na segunda-feira 20 pela Universidade do Alasca Fairbanks na revista científica Nature, todas as teses erraram o alvo. Na verdade, o hiato não passaria de um erro, proveniente de cálculos falhos, com conclusões errôneas.
Os climatologistas envolvidos no estudo repararam que informações sobre o vaivém da temperatura no Ártico não haviam sido devidamente levadas em conta. A região, cuja área equivale mais ou menos ao dobro do território brasileiro, teria sido simplesmente ignorada nas projeções climáticas. Com base na coleta de dados tanto sobre o Polo Norte quanto sobre a superfície terrestre como um todo, a equipe concluiu que aquela extremidade do globo teria esquentado seis vezes mais que a média global ao longo do hiato. Esse novo número foi adicionado à conta que estima qual teria sido a variação na temperatura média global durante o mesmo intervalo de tempo. O resultado correto: em vez de 0,05, houve uma elevação de 0,112 grau. “Chegamos a informações precisas com o uso de tecnologias modernas, melhores que as da década passada”, explicou a VEJA o climatologista chinês Xiangdong Zhang, líder do estudo. “Essas revisões não podem ser usadas para dividir ainda mais a comunidade científica acerca do assunto, mas, sim, como uma forma de progredir nas discussões, encorajando trabalhos e novas políticas de combate a esse problema global.”
Publicado em VEJA de 29 de novembro de 2017, edição nº 2558