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Editorial do Estadão: O naufrágio da Venezuela

Frustrou-se a possibilidade de mudança na próxima eleição presidencial. Maduro afastou da disputa os principais líderes da oposição e continuará presidente

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h28 - Publicado em 10 Maio 2018, 10h53
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  • A cada nova estatística sobre a economia da Venezuela, mais evidente fica o tamanho do desastre em que o chavismo afundou e continua a afundar o país. E sem nenhuma perspectiva, pelo menos a curto prazo, de que seja interrompido esse processo que está jogando um número cada vez maior de venezuelanos, não mais na pobreza, mas na miséria. Os dados mais recentes e chocantes se referem à queda da produção de alimentos nos últimos 10 anos e mostram um panorama desolador.

    Em 2008, a Venezuela produzia 70% dos alimentos consumidos pelos seus 28 milhões de habitantes e a expectativa para 2018 é de que a produção não vá além de 20% destinados à população, que hoje é de 31 milhões. Segundo reportagem do Estado, com base em informações de representantes do setor produtivo daquele país, que estiveram em São Paulo para participar do Encontro de Segurança Alimentar da América do Sul, o resultado disso e da deterioração do poder de compra da população é que os venezuelanos consumiram no ano passado, em média, 4,7 quilos de carne vermelha, o que representa seis vezes menos do que em 2012. No caso da carne de frango, a queda foi de 42 quilos por pessoa em 2012 para apenas 11 quilos no ano passado.

    Não admira que dados de outras fontes, como da revista médica The Lancet, indiquem que a taxa de mortalidade das mães venezuelanas tenha aumentado 65% nos últimos anos e a infantil, 30%. E uma pesquisa realizada no ano passado pelas principais universidades venezuelanas mostrou que 87% das famílias podem ser consideradas pobres, pois não têm condições de adquirir bens mínimos de que precisam.

    O responsável direto por esse descalabro ─ num país que detém as maiores reservas de petróleo do mundo ─ é o regime chavista. A queda acentuada da produção de alimentos é resultado direto das intervenções na economia feitas pelo ex-presidente Hugo Chávez (1999-2013) e, desde sua morte, pelo presidente Nicolás Maduro, como lembra Carlos Albornoz, presidente da Federação Nacional de Pecuaristas da Venezuela (Fedenaga). E essa é uma situação difícil de ser revertida a curto prazo, porque, como afirmam outros líderes empresariais, cerca de 85% do maquinário agrícola está obsoleto e são enormes as dificuldades para comprar insumos e ter acesso a novas tecnologias.

    Estatísticas de outras origens, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), só fazem confirmar e reforçar o naufrágio da economia venezuelana, expondo ao ridículo as tentativas de Maduro e seus aliados ─ entre os quais o PT se mantém teimosamente ─ de atribuir suas desventuras a uma “conspiração imperialista”. A queda do PIB da Venezuela é de tal ordem ─ de 16,5% em 2016, de 14% em 2017, com projeção de 15% em 2018 ─ que dispensa comentários. Completa o quadro a previsão de inflação de 13.000% em 2018. O resultado de tudo isso é que o poder de compra do salário mínimo é hoje 94% menor do que em 1998. No câmbio real ele vale pouco mais de US$ 3 e dá para comprar apenas dois quilos de frango por mês.

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    Os que escapam da pobreza e da miséria são a nova oligarquia criada pelo regime e os militantes chavistas, favorecidos na distribuição das cotas de alimentos, dentro do sistema de racionamento vigente no país. São eles que engrossam os comícios com que Maduro procura mostrar que tem apoio do povo.

    Para piorar ainda mais a situação, frustrou-se a possibilidade de mudança com a próxima eleição presidencial. Maduro afastou da disputa os principais líderes da oposição, que estão presos ou impossibilitados de participar do pleito, antecipado porque isso convinha a seus interesses. Não haverá observadores internacionais independentes. É um jogo de cartas marcadas, que garante a reeleição de Maduro e o afundamento da Venezuela no abismo da crise.

    É por isso que 15 países da América Latina, os Estados Unidos, o Canadá e a União Europeia já declararam que não reconhecerão o resultado do pleito, transformado em farsa.

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