Um total de 62,8 milhões de consumidores tinham alguma conta em atraso em maio, segundo a consultoria Serasa Experian. Houve queda de 0,7% em relação a abril, mas o número continua sendo muito elevado, superando em 2,2% o porcentual registrado em maio de 2018. Mais do que sinal de maus costumes, a inadimplência reflete a aguda dificuldade das famílias de quitar dívidas referentes tanto a serviços essenciais — como os prestados por concessionárias de luz e água —, como compromissos com instituições financeiras. Os atrasos refletem, acima de tudo, o grau de dificuldades do País para retomar o ritmo da atividade econômica.
Salvo maio, o número de inadimplentes cresceu sem interrupção nos primeiros meses do ano. Passou de 62,2 milhões em janeiro e fevereiro para 63 milhões em março e 63,2 milhões em abril. A redução dos atrasos em maio, segundo o economista Luiz Rabi, da Serasa, deve-se ao recuo da inflação, dada a “normalização dos preços dos alimentos”, que liberou renda para as famílias. Mas a queda da inadimplência, diz Rabi, “ainda não sinaliza tendência, uma vez que outras variáveis que também afetam a inadimplência, como o desemprego, ainda estão em patamares elevados”.
Entre maio de 2018 e maio de 2019, cresceram os atrasos de pagamento em contas de eletricidade, água e gás. São dívidas em que o custo do atraso é pequeno comparativamente ao das dívidas com bancos e em que os serviços só são cortados após três meses de inadimplência. Mas os maiores atrasos estão em bancos e cartões de crédito. A distribuição da inadimplência mostra que jovens residentes na periferia, que têm peso de 16,8% na população, representam 32% dos endividados em atraso.
No plano geográfico, os porcentuais mais altos de inadimplência estão em Roraima, Amapá, Amazonas e Acre. Os menores estão em Santa Catarina, Paraíba, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia e Piauí, mesclando, portanto, áreas mais e menos desenvolvidas. Em São Paulo, os atrasos de 42,1% da população adulta superam a média do País (40,1%).
O esforço de acertar contas é visível nos saques das cadernetas e na tomada de linhas de crédito mais baratas para quitar as mais caras. Um ajuste maior poderia ser obtido após a liberação de recursos como os do FGTS e do PIS-Pasep, como fez o governo Temer.