Causa espécie a informação, publicada no Estado, segundo a qual, em 20 das 54 cidades que terão segundo turno das eleições, candidatos propuseram acordo para reduzir o tempo de propaganda eleitoral que lhes é oferecido de graça no rádio e na televisão, às expensas do contribuinte.
O mais comum e lógico é que os candidatos se empenhem em conseguir mais, e não menos, exposição, a fim de divulgar sua plataforma aos eleitores e, assim, em tese, ampliar suas chances de vitória. É por essa razão, aliás, que os partidos médios e grandes, a cada eleição, engalfinham-se na disputa por apoio de legendas nanicas, já que estas, embora totalmente irrelevantes do ponto de vista político e de representação, têm a oferecer preciosos segundos de propaganda eleitoral.
No entanto, algo mudou neste ano. Com a proibição do financiamento eleitoral por meio de doações empresariais, os partidos e seus respectivos candidatos viram-se diante do desafio de fazer uma campanha eleitoral de verdade – bem diferente das bancadas a peso de ouro por generosos empresários interessados em obter vantagens daqueles que ajudaram a eleger e que transformaram os candidatos em meros produtos de marketing.
Assim, ao mesmo tempo que tiveram de buscar financiamento de pessoas físicas – isto é, dos eleitores –, os candidatos foram obrigados a fazer propostas concretas para conquistar os votos e, no corpo a corpo da campanha, ouvir o que os cidadãos têm a dizer e quais são suas aspirações. É a isso que se dá o nome de política – coisa para a qual muitos candidatos não precisavam ter o menor talento, pois se limitavam, na propaganda de TV, a repetir o discurso criado pelo engenho de publicitários muito bem remunerados. Não se apresentavam projetos, mas slogans, e os eleitores não eram tratados como cidadãos, mas sim como “público-alvo”.
No atual cenário, não surpreende que muitos candidatos se sintam desconfortáveis. A falta do dinheiro abundante das doações empresariais, queixam-se esses políticos, inviabiliza a propaganda eleitoral no rádio e na TV tal como era feita até agora. Na opinião deles, sem os recursos proporcionados pelo financiamento, fica difícil bancar peças publicitárias que atraiam a atenção dos eleitores, restando como alternativa reduzir o tempo dado a cada candidato. “Em uma época em que a população não está a fim de ouvir falar sobre política, 20 minutos é muita coisa”, disse Vanderlan Cardoso (PSB), que disputa a prefeitura de Goiânia.
Trata-se de um argumento falacioso. Para apresentar-se aos eleitores e defender suas propostas no horário eleitoral gratuito, basta que o candidato, diante das câmeras ou do microfone de rádio, simplesmente fale. Até onde se sabe, especialmente em tempos em que celulares se transformaram em câmeras, hoje em dia não há nenhuma dificuldade para gravar mensagens políticas. O problema, portanto, não é falta de dinheiro. O problema é não ter o que dizer.
“Se dependesse de mim, em vez do horário gratuito teríamos apenas debates”, disse, em outubro de 1998, o então governador de São Paulo, Mário Covas. Na opinião dele, essa seria “a melhor maneira de conhecer os candidatos e seus programas”, e não por meio das cada vez mais caras campanhas marqueteiras. Políticos como Covas no passado, que tinham algo a dizer, não se intimidavam diante dos eleitores e jamais abririam mão da oportunidade de lhes falar diretamente.
Mas os tempos, infelizmente, são outros. O dinheiro fácil dos empreiteiros e bancos que vinha irrigando as campanhas eleitorais desde 1994 parece ter criado uma geração de políticos incapazes de fazer política. Sem saber como se comunicar com os eleitores, tornaram-se dependentes dos anabolizantes publicitários.
Com a queda brutal dos gastos das campanhas – que foram 71% menores neste ano em relação ao registrado em 2012, diante de uma redução de 64% nas doações eleitorais no mesmo período, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral –, valorizam-se o eleitor e os que têm verdadeira vocação para a política.