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Desglobalização mostra sua face nos fluxos de investimento

A retração nos fluxos globais de investimentos estrangeiros diretos (IEDs) simboliza a percepção de que a economia mundial não está crescendo

Por Marcos Troyjo
Atualizado em 30 jul 2020, 20h14 - Publicado em 20 out 2018, 23h53
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    Passou praticamente despercebida a divulgação na última segunda (15) de um estudo da UNCTAD (órgão da ONU que se ocupa de comércio e desenvolvimento) sobre o fluxo global de IEDs — os investimentos estrangeiros diretos.

    O volume total dessa corrente caiu 41% nos primeiros seis meses de 2018 quando comparado a igual período no ano passado. Está agora no nível mais baixo desde 2005.

    Encontra-se portanto em xeque um dos principais vetores da globalização profunda que se seguiu ao fim da Guerra Fria: o fluxo de IEDs orientado ao fortalecimento e expansão das chamadas cadeias globais de valor. Tal constatação representa um impressionante paradoxo.

    Por um lado, ainda que cada vez mais impactada pela guerra comercial, a economia mundial experimenta no presente ano uma notável expansão. Todos — desenvolvidos e em desenvolvimento (com exceção de Venezuela e outros suspeitos de sempre) — estão crescendo. Isso supostamente convida a mais investimentos transfronteiriços.

    Some-se a isso a grande liquidez disponível — represada por anos de baixíssimas taxas de juros internacionais — e com antenas ligadas para boas oportunidades, particularmente em fusões & aquisições e projetos de infraestrutura.

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    Por outro, os principais recipiendários de IEDs neste primeiro trimestre são justamente os que protagonizam traços marcantes da atual fase de desglobalização — a guerra comercial e o “brexit”. China (US$ 70 bi), Reino Unido (US$ 66 bi) e EUA (US$ 47 bi) ocuparam as três primeiras colocações.

    O Brasil, apesar de suas instabilidades, ficou em sétimo com (US$ 26 bi) — atrás de Holanda (US$ 45 bi), Austrália (US$36 bi) e Cingapura (US$ 35 bi), mas à frente da Índia (US$ 22 bi).

    A política tributária adotada pelos EUA de Trump tem muito a ver com isso tudo. Empresas transnacionais norte-americanas repatriaram US$ 217 bi desde que as novas normas entraram em vigor.

    Isso implica que a retração nos fluxos globais de IEDs simboliza menos a percepção de que a economia mundial não está crescendo e mais uma reação a uma política específica posta em prática por um dos atores — no caso, os EUA.

    Há um outro dado que chama a atenção no relatório da UNCTAD. IEDs direcionados a novos empreendimentos, tipo de investimento tecnicamente denominado “greenfield”, cresceram 42% quando comparado a 2017.

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    E se neste aspecto a campeã no recebimento de IEDs foi a China, pode-se perceber aqui também uma importante tendência. Ao contrário dos últimos quarenta anos, desde que a China realizou sua “abertura”, em que o IED na China era ou do tipo “bumerangue” ou da modalidade “seriada”, o objetivo de investir no mercado chinês mudou.

    O bumerangue era aquele investimento essencialmente estabelecido para fins de “outsourcing” em virtude da China ter sido até recentemente uma país de baixo custo. Bom exemplo disso é a operação do Walmart. Capital norte-americano produzindo na China manufaturas a serem exportadas para os EUA.

    Já a modalidade “seriada” implicava realizar na China uma fase de um processo produtivo — digamos, a coloração de jaquetas de couro, que dali seriam finalizadas numa terceira praça e então encaminhadas à distribuição global.

    Nesta nova fase, os IEDs que buscam a China o fazem para lá cumprir etapas inteiras do processo produtivo — e, no limite, comercializar o resultado de tal dinâmica no próprio mercado interno chinês.

    A maior fatia das trocas globais se dá no âmbito do comércio intrafirmas. Trata-se de unidades de uma mesma corporação que se dispersam em diferentes países seja por razões de custo, seja por habilidades específicas.

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    Na medida em que os IEDs nas cadeias globais de valor estão diminuindo, isso também projeta dias mais sombrios para o comércio internacional.

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