“O episódio exige uma profunda reflexão sobre os métodos utilizados pelo Palácio do Planalto para a consecução de seus objetivos políticos”, diz a nota redigida por dois dirigentes do PT sobre o caso da quebra de sigilo. Nada a ver com o estupro do sigilo fiscal de quatro pessoas ligadas a José Serra. Sem amparo em provas, evidências ou indícios, o documento distribuído em 18 de dezembro de 1996, quando o presidente era Fernando Henrique Cardoso, denuncia a quebra ilegal do sigilo bancário de oito parlamentares do PPB e cobra providências do governo. Indigente na forma e leviano no conteúdo, o texto foi produzido a quatro mãos por José Dirceu, presidente do PT, e José Eduardo Dutra, líder do governo no Senado.
Além do afastamento do ministro da Coordenação Política, Luiz Carlos Santos, Zé Dirceu e Zé Dutra exigiram a demissão do secretário-geral da Presidência da República, Eduardo Jorge Caldas Pereira. O mesmo Eduardo Jorge que, 14 anos mais tarde, depois de declarado inocente em todas as instâncias judiciais, seria vítima do estupro encomendado pelos fabricantes de dossiês. Em 1996, como atesta a nota reproduzida na seção O País quer Saber, os dois Zés enxergaram, sem apresentar quaisquer provas consistentes, um fato criminoso de altíssimo calibre. Hoje, confrontados com a montanha de evidências, só conseguem enxergar “um factoide”. Limites para o cinismo, isso a dupla nunca enxergou.
No último discurso antes da cassação, José Dirceu pediu desculpas a Eduardo Jorge pelas acusações improcedentes e infamantes. O ex-secretário-geral da Presidência processou os caluniadores e, no momento, exige esclarecimentos da Receita Federal. O Brasil que presta sabe quem é honesto e quem não vale nada. Só falta a Justiça recobrar o juízo, recuperar a altivez e enquadrar a bandidagem.