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Augusto Nunes

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Deonísio da Silva: A Chapecoense, nossa academia e as simetrias

Ontem, à noite, minha mulher e eu descartamos um filme da Globo que parecia ser de desastre aéreo. E fomos rever mais um episódio de "Lúcia McCartney"

Por Branca Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 21h13 - Publicado em 30 nov 2016, 06h17
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  • A Chapecoense não foi o primeiro time a perder seus jogadores num desastre aéreo. Italianos e ingleses nos precederam também neste quesito.

    “Ao destino agradam as repetições, as variantes, as simetrias”, diz Jorge Luís Borges no conto “A trama”, tão curto quanto célebre.

    Eu dava esta narrativa como exemplo de uma história curta bem contada a alunos do Brasil meridional que estudavam na Universidade de Ijuí na década de 70. Notei que, entre eles, havia catarinenses que vinham de Chapecó e lembrei-lhes que Lucas Boiteux, autor que pertenceu à Academia Catarinense de Letras, explicara que a etimologia de Chapecó na língua caingangue queria dizer “lugar de onde se vê o caminho da roça”.

    Nos dias seguintes, fomos a uma aldeia caingangue ali das redondezas e o cacique perguntou-nos pelo governador Borges de Medeiros, de quem se dizia amigo. Explicamos que ele não era mais governador. O chefe indígena franziu o cenho: “Mas por quê?”. Um de nós lhe disse que o governador tinha morrido. Ele quis saber de quê.

    Nenhum de nós soube responder. Fazia quase vinte anos que Borges de Medeiros morrera, aos 98 anos, o que nos deu o ensejo para perguntar a idade do cacique. “Quatro sementes de taquara”, disse o cacique. Só mais tarde fomos saber que a semente de taquara demora de 35 a 40 anos para florescer…

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    Hoje pela manhã, falei ou troquei mensagens com vários catarinenses, por gosto ou por dever de ofício, e nossa pauta ia ser outra (sou catarinense, tenho muitos amigos em SC, pertenço à Academia Catarinense de Letras, ajudo num projeto editorial da Unisul etc.), mas o assunto era um só: o desastre aéreo que matara todo o time da Chapecoense.

    O escritor Oldemar Olsen Jr., que já foi casado com a também escritora Maria Odete Olsen, ambos meus queridos amigos, noticiou um fato grave: com os sentimentos desarrumados pela tragédia, recebeu conselho do irmão mais novo para acalmar-se. Foi, então, que ele percebeu que a coisa era feia: receber conselho de irmão mais novo!

    Pois é, uns vivem mais do que Borges de Medeiros, como foi o caso do cacique caigangue. Outros morrem cedo, como os dois irmãos adolescentes que perdi afogados num rio catarinense.

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    E uns morrem no céu da pátria, a poucos minutos de o avião aterrissar e a um dia de disputarem por Santa Catarina e pelo Brasil o título da Copa Sul-americana.

    O jornalista Celso Arnaldo Araujo lembrou há poucas horas que o goleiro Danilo, um dos mortos, fez há poucos dias a maior defesa de sua carreira no último minuto do jogo da Chapecoense contra o San Lorenzo, e que esta defesa custou-lhe a vida hoje!

    Ontem, à noite, minha mulher e eu descartamos um filme da Globo que parecia ser de desastre aéreo. E fomos rever mais um episódio de “Lúcia McCartney”, autor brasileiro contemporâneo que eu lia e, admirado, indico a meus alunos desde aquela época. Quando José Henrique Fonseca me convidou para ser consultor do roteiro, tremi de emoção.

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    Reitero com Borges: “ao destino agradam as repetições, as variantes, as simetrias”.

    “Pero, che!”.

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