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Celso Arnaldo: a dupla Pedrinho e Gastão prova que o mais impune dos brasileiros tomou de assalto parte do governo

Celso Arnaldo Araújo O novo ministro do Turismo se chama Gastão – homenagem sem graça ao país da piada pronta. Nem o mais fanático leitor de jornais, daqueles que devoram editais, obituários e classificados, jamais encontrou, nos últimos 20 anos, a mais remota referência a seu nome ou figura num rodapé de página– muito menos […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 10h45 - Publicado em 16 set 2011, 02h41
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  • Celso Arnaldo Araújo

    O novo ministro do Turismo se chama Gastão – homenagem sem graça ao país da piada pronta. Nem o mais fanático leitor de jornais, daqueles que devoram editais, obituários e classificados, jamais encontrou, nos últimos 20 anos, a mais remota referência a seu nome ou figura num rodapé de página– muito menos no mesmo parágrafo da palavra Turismo.

    E após sua estreia fisionômica nos jornais de hoje, afaste-se de imediato a tentação politicamente incorretíssima de evocar a teoria lombrosiana. Nem nela Gastão se encaixa: feição mais comum, impossível — um despercebido permanente, até aqui amalgamado ao barro grosso do baixo clero da Câmara. Leu-se hoje, ao lado da foto inédita e da notícia espantosa de sua nomeação como ministro de Estado, que está no quinto mandato como deputado federal, é advogado e mestre em direito, milita na área de educação e é torcedor do Sampaio Corrêa. Agora, com todas as prerrogativas do melhor cargo de sua vida, assinará cheques, nomeará pessoas, controlará verbas vultosas.

    O fato de ser um absoluto desconhecido da opinião pública e de não apresentar nenhuma credencial para o cargo não teve o menor peso no nihil obstat de Dilma – porque Gastão é deputado do PMDB do Maranhão e, desnecessário dizer, embora os jornais de hoje redundem na informação para os desavisados, “pertence ao grupo do senador José Sarney”.

    É o grupo do mais impune dos brasileiros que afronta o país com sua liberdade plena para tomar de assalto parte da administração federal e desviar dinheiro público. É o grupo que teve o desplante de impor a Dilma, no começo do seu governo, um homúnculo moral como Pedro Novais, agora substituído por Gastão. O defeito de Novais não era em absoluto a velhice, mas a velhacaria e a assombrosa mediocridade de sua existência – plenamente confirmada em oito meses penosos à frente do Ministério do Turismo.

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    O Turismo, pasta absolutamente inútil para o desenvolvimento desse setor no país, mas resort burocrático com extraordinário potencial para um tour “all inclusive” às falcatruas da classe política brasileira, é da “cota” do PMDB. Não vale um décimo das diretorias da Petrobras também ocupadas por peemedebistas, em termos de oportunidade de negócios, mas é da cota, e o que é combinado não é caro.

    Em nenhum momento, por um laivo de consciência ou de ínfimo pudor, nem por uma estratégia política para compensar o desatino da indicação anterior de Novais, os próceres do PMDB pensaram em deixar Dilma à vontade – se ela quisesse essa liberdade – para apontar ou pelo menos cogitar de alguém do ramo, fora da cota para larápios. Michel Temer, fiador do contrato de aluguel do PMDB com Dilma, não admitiria esse gesto de brasilidade. Voltou de um período de vilegiatura particular na Bahia, com um desarranjo intestinal que contraindicava até um pigarro, para fazer força por Gastão. É como se Novais não tivesse contado.

    Quando estourou o escândalo da Operação Voucher, Sarney fez que não era com ele. Só conhecia Novais de vista – e para se ter vista de Pedrinho, com seu 1m46 de altura, era preciso chegar bem perto. Sarney se afastou. Era como se dissesse: “Esse não valeu”. Agora, com Gastão, preenche-se a lacuna que existia desde a posse de Pedro Novais.

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    Pelos primeiros sermões de Vieira hoje na TV, o novo ministro é troncho e igualmente medíocre – traços genéticos dos sarneyzistas. As outras características do DNA do grupo virão a seu tempo – cabendo a vigilância à imprensa naturalmente.

    Dilma, que em absoluto se sentiu incomodada com as reinações de Pedrinho e com mais um ministro da legenda que cai no valão dos malandros, foi prestigiar o seminário do PMDB, hoje, e agradeceu, daquele seu jeitão destrambelhado, o “apoio” do partido a seu governo.

    A presidente dá, todos os dias, prova de seu despreparo acintoso para o cargo – mas pelo menos ainda tentava mostrar um certo pendor pela autoridade de seu mandato. Ao ceder de novo à chantagem do PMDB, na qual o ministério do Turismo é só uma ponta minúscula, ela mostra também uma profunda ignorância política.

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    Governos de coalizão, como supostamente é este, de Lula/Dilma, são próprios de regimes parlamentaristas – onde a responsabilidade de mando e poder é compartilhada entre as forças que o apóiam, inclusive em eventuais desastres. Num sistema presidencialista, a divisão do governo ao nível de partilha entre políticos que se comportam como predadores de uma empresa privada, ávidos por lucros, gera uma situação esdrúxula: o bônus é dos acionistas – Sarney, Temer e companhia bela. O ônus pelas indicações cegas, sem filtro protetor, é todo do presidente. O Brasil é hoje o único país do globo com essa patológica dinâmica de poder.

    Quem perdeu mais com as travessuras de Pedrinho Novais: Dilma ou Sarney?

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