A grande virada vai começar
Felipe Moraes As multidões que se movem diariamente pelo centro de São Paulo ficarão ainda maiores neste fim de semana. Mas a região viverá o estranho tipo de trégua resultante do sumiço de carros, motos e ônibus lotados. As ruas serão submersas por ondas humanas atraídas por mais de 1.000 atrações incluídas na programação da […]
Felipe Moraes
As multidões que se movem diariamente pelo centro de São Paulo ficarão ainda maiores neste fim de semana. Mas a região viverá o estranho tipo de trégua resultante do sumiço de carros, motos e ônibus lotados. As ruas serão submersas por ondas humanas atraídas por mais de 1.000 atrações incluídas na programação da 7ª edição da Virada Cultural, que começa às 18 horas desde sábado, dia 16, e se estende até as 18h de domingo, 17.
As 24 horas da saudável agitação abrangem uma enorme variedade de shows, mostras de cinema, espetáculos de circo, teatro, dança, arte de rua e performances (convém registrar que diversos centros culturais, museus, escolas, e galerias aderem ao evento com uma programação especial). Para facilitar as escolhas dos participantes da maior maratona cultural do Brasil, a coluna montou uma seleção que vale a pena conferir:
Di Melo
Cantor e compositor recifense, Di Melo gravou nos anos 70 um disco que fez muito sucesso ao apresentar uma mistura de soul e samba rock. Depois de anos longe dos holofotes, ele reaparece para um show que funde músicas conhecidas e inéditas. Tem tudo para dar certo.
Palco República, 4h
O trombonista americano Fred Wesley é conhecido por participações na banda de James Brown nas décadas de 60 e 70. Nos anos 90, formou o New JB’s. O show promete muito balanço e um repertório que incorpora clássicos do rei do funk.
Palco República, 22h
José Mojica Marins, o Zé do Caixão
O cine Windsor homenageia o cineasta José Mojica Marins numa mostra com 12 filmes do diretor. Entre eles, os clássicos “À meia noite levarei tua alma” e “Encarnação do Demônio”. As sessões começam no dia 16, a partir das 18h, e se prolongam até o fim do evento.
Cine Windsor – Av. Ipiranga, 974
Ópera ao ar livre, Circo e Projeção
O espetáculo mistura linguagens artísticas para interpretar a ópera Pagliacci, do italiano Ruggero Leoncavallo. Acompanhando a Orquestra Sinfônica Municipal e o Coral Lírico, participam da encenação integrantes da trupe circense Acrobático Fratelli, bonecos de teatro de animação da companhia Pia Fraus e o grupo Visualfarm, responsável pela cenografia, que inclui projeções de imagens na fachada do Pátio do Colégio.
Pátio do Colégio, dia 16, às 20h, e dia 17, às 19h
O show marcará o retorno do RPM, uma das bandas de maior sucesso no Brasil dos anos 80, depois de quase uma década de separação. Além dos obrigatórios London, London e Olhar 43, serão apresentadas algumas músicas do disco que ainda está sendo produzido.
Palco Júlio Prestes, dia 17, às 18h
Toni Tornado, Dom Salvador e Abolição
O ator e cantor Toni Tornado se junta ao pianista Dom Salvador e à banda Abolição para reviver o disco Som, Sangue e Raça. Única gravação realizada pelo conjunto na década de 70, o trabalho apresenta uma mistura de ritmos como soul, samba, bossa-nova, jazz e rhythm & blues. O disco é considerado a obra prima do pianista que vive em Nova York e veio ao Brasil especialmente para a apresentação.
Palco República, 00h
Atrações 24 horas:
Stand up comedy
Grande novidade desta edição, os artistas usarão um palco exclusivo para apresentações que começam no dia 16, às 20h e vão até o fim da tarde do dia 17. Participam os comediantes Danilo Gentili, do CQC, e Marcelo Mansfield, um dos principais nomes do stand up brasileiro.
Viaduto do Chá, Vale do Anhangabaú
Contação de história
A Galeria Prestes Maia está reservada a narrativas que começam no dia 16, às 19h. A programação é dividida entre histórias para o público adulto e o infantil.
Galeria Prestes Maia, a partir das 19h
Ilusionismos
A magia e o ilusionismo iluminarão o palco montado na Praça do Patriarca, que juntará artistas de vários países. Confira “Enigmático”, espetáculo de Fábio de Rose, que será apresentado dia 16, às 17h, e dia 17, às 6h.
Praça do Patriarca, dia 16, às 18h, até dia 17, às 6h
Cinco perguntas para José Mauro Gnaspini, diretor de programação da Virada Cultural
Depois de organizar um evento desse porte, sobra ânimo para participar da Virada?
Rodo por todos os palcos com um patinete elétrico, mas é menos do que gostaria. Queria falar com todo mundo e agradecer aos artistas. Mesmo assim, dá para aproveitar. Acabo vendo vários shows de raspão e consigo acompanhar a movimentação das pessoas que lotam o centro. Porque o barato do evento também é a presença das pessoas nas ruas.
Quantas atrações uma pessoa comum consegue ver?
Umas quatro ou cinco, sem contar os eventos que acontecem nas ruas e podem ser vistos entre um show e outro. Claro que tem aqueles apelidados por nós de “virados”, que ficam acordados 24 horas e conseguem ver umas dez ou doze atrações.
Qual foi a atração mais interessante que você viu?
No ano passado, tivemos uma apresentação chamada Chopin Voador. O pianista Ricardo Peres tocava a 36 metros do solo. Outra atração que me marcou foi uma réplica da estátua do Borba Gato que ficou no Vale do Anhangabaú e ia mudando de lugar durante o evento. Os eventos de rua são muito interessantes e a gente gosta de fazer.
O que acha de artistas que aproveitam a virada cultural para apresentar seu trabalho à margem da programação oficial?
Acho fantástico. É interessante notar os artistas de rua que normalmente ficam no centro e acabam participando. Numa das edições, passei pela Praça da República e aqueles peruanos que tocam a flauta andina estavam mostrando seu trabalho habitual, só que na frente deles estava havendo um baile, uma multidão dançando. Aquilo nunca havia acontecido, virou um mega show. Achamos tão legal que neste ano decidimos assimilar algumas dessas figuras.
O que significa a virada cultural para você?
Uma das coisas que nos envaidece é a Virada ter esse viés urbanístico. Muito mais que um evento cultural, é uma festa para toda a população. Trazemos para o centro porque é a vitrine da cidade para o mundo. A ideia é atrair novos olhares para a região. É preciso haver uma reurbanização humana. A tentativa é buscar uma recuperação simbólica e afetiva. Acreditamos que as pessoas precisam passear aqui pelo menos uma vez por ano para criar uma relação nova com a região. Sem carros e ônibus é possível olhar para cima e entender a verticalidade do centro. Uma visão que as pessoas não estão acostumadas a ter no dia a dia.