Hélio Bicudo sempre viu as coisas como as coisas são, e nunca lhe faltou coragem para contar o caso como o caso foi. No início dos anos 70, por exemplo, o grande defensor da lei enfrentou com comovente destemor o grupo de extermínio formado por policiais liderados pelo delegado Sérgio Fleury, que ingressaria na História Universal da infâmia como um dos mais ferozes torturadores a serviço de chefes militares ultradireitistas.
Em 2005, Bicudo abandonou o PT, enojado com a constatação de que o partido que ajudou a fundar se transformara numa organização criminosa. Ao comandar a ofensiva que resultou no impeachment de Dilma Rousseff, deixou claro que, além de sair do PT, também fizera com que o PT saísse dele. Morto aos 96 anos, Hélio Bicudo pertence à linhagem dos homens que sempre parecem ter partido cedo demais.