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‘Salgaram a Santa Ceia’, por Ricardo Noblat

PUBLICADO NO BLOG DO NOBLAT NESTA SEGUNDA-FEIRA RICARDO NOBLAT É um exagero sugerir que o governo deflagrou a maratona do Bolsa Família nos últimos dias 18 e 19 unicamente para atribuir sua autoria à oposição, responsável por ela mediante a difusão de boatos. O risco seria demasiado grande. E se a movimentação inesperada de cerca de um […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 06h07 - Publicado em 3 jun 2013, 17h16

PUBLICADO NO BLOG DO NOBLAT NESTA SEGUNDA-FEIRA

boatos bolsa

RICARDO NOBLAT

É um exagero sugerir que o governo deflagrou a maratona do Bolsa Família nos últimos dias 18 e 19 unicamente para atribuir sua autoria à oposição, responsável por ela mediante a difusão de boatos.

O risco seria demasiado grande.

E se a movimentação inesperada de cerca de um milhão de pessoas em 13 Estados tivesse resultado em mortos e feridos? E se ao invés de um milhão tivessem sido quatro, cinco ou seis a se movimentarem?

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Tudo bem, como adiantou Gilberto Carvalho, secretário-geral da presidência da República: o bicho vai pegar este ano, véspera da reeleição de Dilma ou de uma improvável derrota dela. Está pegando.

Faz-se o diabo para ganhar, disse a própria Dilma recentemente.

Mas ninguém em sã consciência rasga dinheiro. Vence quem erra menos. Ousadia em excesso é para quem está desesperado. Ou aloprou.

Em 2006, candidato à reeleição, Lula bateria fácil Geraldo Alckmin no primeiro turno.

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Havia sobrevivido ao escândalo do mensalão graças ao erro de cálculo da oposição que, ao impeachment, preferiu esperar que ele sangrasse sozinho até a última gota. Mas aí funcionários da campanha de Lula alopraram, encomendando um falso dossiê contra Alckmin e José Serra.

Foi um lance com direito a mala abarrotada de dinheiro, batida da Polícia Federal em hotel no meio da noite e prisão do coordenador da campanha de Aloizio Mercadante, candidato ao governo de São Paulo e adversário de Serra.

Para não responder sobre os aloprados, Lula fugiu ao último debate dos candidatos a presidente promovido pela TV Globo. Sua vitória acabou adiada.

O caso dos aloprados ficou por isso mesmo. Ao do Bolsa Família parece reservado o mesmo destino.

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Tudo indica que não estamos diante de um crime ardilosamente concebido.

O mais provável é que tenha ocorrido na Caixa um absurdo erro administrativo. E que em seguida se tenha tentado aproveitá-lo para desgastar a oposição. Nada de surpreendente, por suposto.

O presidente da Caixa afirmou que só soube de parte do que acontecera na segunda-feira 20.

Lorota: soube na tarde do sábado 18 que a Caixa adiantara na véspera o pagamento do benefício de maio de quase 700 mil pessoas.

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Por fim, disse que precisou de cinco dias para se inteirar dos detalhes do desastre. Lorota: bastou o fim de semana, dispensado até um pulo ao prédio da Caixa para uma reunião de emergência.

De quantos dias precisaria a oposição para armar uma operação de telemarketing capaz de atingir um milhão de pessoas distribuídas por 13 Estados?

Vazou da Caixa o cadastro com os números de telefones de uma fatia dos clientes do Bolsa? Ou a empresa de telemarketing disparou telefonemas aleatórios, tendo a sorte de alcançar quem mais tarde disseminaria boca a boca o boato do fim do programa?

Há pontos obscuros de sobra a respeito do episódio.

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Um jornal paulista cobrou do governo respostas para todos eles. Ouviu de volta: os esclarecimentos já foram dados. Ora, evidente que não foram.

Se a imprensa não existisse os governos seriam mais felizes. Em compensação, o distinto público seria mais enganado do que costuma ser – dia sim, outro não. Ou dia sim e outro também.

A dona do gatilho mais rápido do cerrado, a justiceira implacável que nada perdoa e cultiva o medo nos seus domínios, autorizou a publicação de uma nota em defesa da direção da Caixa.

Se assim não procedesse reconheceria que seu governo erra – e como erra! A cada dia erra mais.

O passo seguinte seria o de livrar-se de auxiliares tão descuidados.

Um deles, o presidente da Caixa, pediu desculpas aos brasileiros.

Dilma é quem deveria ter pedido.

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