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‘Leitura para bebês’, um artigo de Roberto Pompeu de Toledo

PUBLICADO NA EDIÇÃO IMPRESSA DE VEJA ROBERTO POMPEU DE TOLEDO Se à pátria só trouxe prejuízos, ao léxico, a gangue dos pareceres, também conhecida como o bando dos “bebês de Rosemary”, trouxe uma contribuição: o uso da palavra “livro” (com as variantes “volume”, “obra” e “exemplar”) como sinônimo de dinheiro. Alguns exemplos, tal qual aparecem […]

Por Branca Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 07h15 - Publicado em 10 dez 2012, 15h46
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    PUBLICADO NA EDIÇÃO IMPRESSA DE VEJA

    ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

    Se à pátria só trouxe prejuízos, ao léxico, a gangue dos pareceres, também conhecida como o bando dos “bebês de Rosemary”, trouxe uma contribuição: o uso da palavra “livro” (com as variantes “volume”, “obra” e “exemplar”) como sinônimo de dinheiro. Alguns exemplos, tal qual aparecem em telefonemas e e-mails trocados pelo grupo e interceptados pela Polícia Federal:

    De Rosemary Noronha, pivô da gangue, para Paulo Vieira, considerado o chefe supremo: “Se vc acha que não está correio abone o envio dos 30 livros”; De Paulo Vieira para José Weber Holanda, subchefe da Advocacia-Geral da União: “Está em falta o livro sobre terras da União. Eu trouxe aquele volume resumido. Tem o volume resumido que eu mandei comprar pra você e preciso te entregar”; De novo de Vieira para Weber: “Vamos marcar para tomar um café, por causa que (sic) eu te passo o livro lá que eu quero publicar na revista da escola, e em seguida a gente troca uma ideia”;

    De Vieira para Esmeraldo Malheiros dos Santos, funcionário do Ministério da Educação: “Há 20 exemplares da obra à sua disposição na minha casa na próxima semana. É para as suas leituras de férias”.

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    Sinônimos, em princípio, não existem. São repelidos pelo organismo vivo que é a língua, em nome do princípio da economia. Não há uma única palavra que tenha o mesmo exato sentido de “mesa”, como também não há uma única com o mesmo exato sentido de “casa”. Havendo duas palavras com o exato mesmo significado, uma delas fenece e morre. Uma exceção são as variações regionais. Entre muitos exemplos, a mandioca pode ser chamada de aipim, macaxeira e vários outros nomes, conforme a região do Brasil.

    Outra exceção, mais interessante e intrigante, são os vocábulos que, por provocar escrúpulos de diversa natureza, clamam por subterfúgios. Nesse caso, registram-se abundantes sinonímias. Contam-se, no dicionário Houaiss, 135 sinônimos para a palavra “diabo” ─ de “anhanga” a “zarapelho”. O medo de, ao nomeá-lo, invocar sua indesejada presença, leva a tratá-lo de formas aproximativas. Ele é o “tinhoso”, o “rabudo”, o “coxo”; prefere-se mencionar atributos seus do que ir direto à repelente pessoa. No mesmo dicionário, a palavra “meretriz” tem 110 sinônimos, de “alcouceira” a “zoina”. Como é próprio aos assuntos de sexo, ou se reage com envergonhado pudor ou com aberta falta de vergonha. Os primeiros preferirão os eufemísticos “mulher da vida” ou “mulher-dama”, enquanto os segundos partirão para os desavergonhados “marafona” e “piranha”. A palavra maconha, que designa um objeto proibido, adquirido em mercados clandestinos e consumido em ambientes restritos, tem 31 sinônimos, de “abango” a “umbaru”.

    Dinheiro também está entre as campeãs. O Houaiss lhe dá 127 sinônimos, de “algum” e “arame” a “zergulho” e “zinco”. Com a contribuição de Rosemary e seus bebês, agora são 128. Dinheiro combina algo do sexo, no sentido de que provoca do pudor à sem-vergonhice, com algo da maconha, quando é adquirido e consumido nas sombras, e muito do diabo: como o “cão”, o “capeta”, o “moleque”, também o “cobre”, a “gaita”, a “grana” tem a mania de reclamar a alma em troca. A originalidade da gangue de Rosemary está no fato de, ao contrário de buscar inspiração no território chão da gíria, ter escolhido um objeto de prestígio, como o livro. Em termos práticos, não adiantou. Na verdade, o simples fato de não chamar o dinheiro de “dinheiro” já é indicativo óbvio de que a “bufunfa”, o “cacau”, a “prata” tem raiz no crime. A fantasia de que se estão negociando preciosas bibliotecas, num diálogo entre doutos acadêmicos, evidencia um arrivismo que só realça a vulgaridade do pessoal.

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