Essa pode ser uma das descobertas mais fascinantes e aguardadas desde que Marte começou a ser explorado por robôs enviados da Terra: em uma de suas análises geológicas, a sonda Perseverance encontrou compostos químicos que indicam que o planeta vermelho pode ter abrigado vida há milhões de anos.
A Nasa foi cuidadosa ao afirmar que ainda não há certeza e que mais estudos precisam ser feitos – mas não conseguiu esconder a animação. De acordo com eles, a rocha batizada como Cheyava Falls contém filamentos e assinaturas moleculares que podem ter sido produzidos por microrganismos quando ainda havia água corrente no planeta.
O material foi coletado em uma região que já foi um rio e desaguava na cratera Jazero. “Nós projetamos a rota do Perseverance para garantir que ele percorra áreas com potencial para amostras científicas interessantes”, disse Nicola Fox, da NASA, em comunicado. “Esta viagem pelo leito do rio Neretva Vallis valeu a pena, pois encontramos algo que nunca vimos antes, o que dará aos nossos cientistas muito o que estudar.”
Ao analisar a rocha, os instrumentos do rover descobriram pequenas manchas avermelhadas que contêm compostos orgânicos, além de halos pretos, semelhantes às manchas dos leopardos, que contém fosfatos e ferro – estruturas que, na Terra, são fortemente relacionados à fossilização de micróbios que viveram na superfície.
Sozinhos, no entanto, esses não são sinais inquestionáveis de vida. A presença de cristais originados do magma também encontrados na rocha sugere que altas temperaturas podem ter criado o ambiente favorável para as reações químicas que produziram essas estruturas. Para que as questões que restam sejam melhor elucidadas será necessário trazer o material para a Terra, algo que ainda não está tão próximo de acontecer.
O que a Curiosity encontrou?
Semanas antes deste anúncio, a sonda Curiosity havia feito outro achado inédito. Ao passar acidentalmente por cima de uma rocha, no final de maio, o material se quebrou revelando cristais amarelos nunca antes vistos no planeta.
O estudo geológico revelou que se tratava de enxofre puro. Esse elemento é bastante comum no planeta vermelho, mas até agora ele só havia sido encontrado na forma de sulfatos, nunca na forma pura. Ao continuar procurando, a sonda encontrou diversas outras rochas formadas por essas mesmas estruturas.
Isso surpreendeu os pesquisadores porque esses cristais só se formam em condições muito específicas, incomuns no planeta vermelho. “É como encontrar um oásis no deserto”, disse Ashwin Vasavada, pesquisadora da Nasa, em comunicado.
Esse elemento não é uma assinatura que denuncia a presença de vida, como as descobertas mais recentes, mas ele, sem dúvidas, é necessário para as formas bióticas que conhecemos hoje, sendo essencial para o metabolismo. Assim, entender as formas em que ele está no planeta pode ajudar a compreender melhor a disposição dos elementos essenciais para a vida e, no limite, trazer à luz evidências mais claras sobre a origem dos primeiros organismos do sistema solar.