Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês

Alexandre Schwartsman

Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Economista, ex-diretor do Banco Central
Continua após publicidade

Quanto podemos crescer?

Produtividade não é tudo, mas quase tudo

Por Alexandre Schwartsman Atualizado em 3 jun 2024, 17h22 - Publicado em 8 mar 2024, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Região de Campo Novo do Parecis (MT) tem boa produtividade de soja
    Região de Campo Novo do Parecis (MT) tem boa produtividade de soja (VEJA.com/VEJA)

    O crescimento em 2023 atingiu quase 3%, praticamente o mesmo resultado de 2022, em ambos os casos bem acima das projeções que haviam sido feitas no começo de cada ano (inclusive as minhas, confesso). O desempenho positivo nestes anos levou alguns analistas a sugerirem que a capacidade de expansão do país (o dito crescimento potencial) teria se elevado, talvez em resposta ao conjunto de reformas (trabalhista, previdenciária, gás, saneamento etc.) aprovadas desde 2016, cujos frutos agora se materializariam. Não é minha opinião, por mais que acredite que tais iniciativas foram positivas.

    Para entender isso, precisamos dar um passo atrás e explorar o significado do crescimento potencial. Trata-se do ritmo que pode ser mantido indefinidamente sem causar desequilíbrios que levem a uma taxa de inflação mais alta, ou ao aumento insustentável das importações relativamente às exportações (ou uma combinação de ambos). Simplificando, é o ritmo que não leva à redução persistente da taxa de desemprego. Não que haja algo errado com toda e qualquer diminuição do desemprego, muito pelo contrário. Em situações nas quais o desemprego seja muito elevado (como no Brasil saindo da pandemia), é natural e desejável que a economia cresça além do seu potencial, aproveitando para reempregar a mão de obra ociosa.

    Isso dito, quando a economia se aproxima do pleno emprego, tal ritmo começa a ficar insustentável. Há dez anos, por exemplo, tal fenômeno levou à aceleração da inflação e a um enorme déficit externo, na casa de 100 bilhões de dólares em 2014.

    Nos últimos anos, a taxa de desemprego caiu a quase metade do nível atingido durante a pandemia, ou seja, crescemos mais rápido do que o potencial nos aproveitando da enorme ociosidade da mão de obra. Essa ociosidade permitiu crescimento com inflação em queda modesta e contas externas na ponta dos cascos, mas agora parece estar perto do fim. Daqui para a frente o crescimento terá de se alinhar ao potencial, que pelas indicações acima é menor que 3% ao ano. Segundo minhas estimativas, algo entre 1,5% a 2,0% ao ano, provavelmente mais perto do limite inferior.

    Continua após a publicidade

    “A produtividade cresceu 0,2% em 2023. Descontado o setor agrícola, estamos mal, pelo baixo investimento”

    O que explica o baixo crescimento potencial? Fundamentalmente, o fraco desempenho da produtividade. Nos últimos dez anos, o PIB por trabalhador caiu ao ritmo de 0,2% ao ano (o PIB cresceu 0,7% ao ano, o emprego 0,9% ao ano), o que já é bastante ruim. Todavia, no caso da agricultura, a produtividade cresceu 5,7% ao ano, enquanto o restante da economia registrou queda de 0,7% ao ano. Mesmo em 2023, descontada a agricultura, a produtividade cresceu mísero 0,2%.

    Em suma, exceto pelo setor agrícola, estamos mal, refletindo o baixo investimento, as deficiências na formação da mão de obra e um ambiente institucional que não incentiva a inovação.

    Continua após a publicidade

    Com disse Paul Krugman, “produtividade não é tudo, mas a longo prazo é quase tudo”. Não é a visão, porém, que norteia a política econômica atual, que insiste na expansão do gasto público como chave para o crescimento, repetindo os erros da Nova Matriz Econômica.

    Colheremos consequências similares.

    Publicado em VEJA de 8 de março de 2024, edição nº 2883

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Veja e Vote.

    A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

    OFERTA
    VEJA E VOTE

    Digital Veja e Vote
    Digital Veja e Vote

    Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

    1 Mês por 4,00

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

    a partir de 49,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.