A principal fonte de pressão para o retorno do auxílio emergencial é a população mais pobre do país. O Datafolha revelou que o aumento da avaliação negativa do Governo Bolsonaro se deveu em grande medida a sua piora junto a quem recebe até dois salários mínimos. Somente 26% deste segmento considerava Bolsonaro ruim/péssimo na penúltima pesquisa, ainda enquanto vigorava o auxílio emergencial. Na pesquisa de janeiro, já sem receber o benefício, o ruim/péssimo neste grupo da população saltou para 41%. Considerando-se toda a população brasileira, o ruim/péssimo aumentou oito pontos percentuais (de 32 para 40%), porém 6,5 pontos percentuais se devem à mudança de avaliação junto àqueles que estão na base da pirâmide social.
Do outro lado, a pressão para que um novo auxílio emergencial não seja concedido deriva dos setores empresarias e do mercado financeiro. Neste caso, a preocupação é com a situação das finanças públicas do país. Para a maioria das pessoas trata-se de um tema difícil, espinhoso e, com frequência, sem sentido. Aqueles contrários a novos gastos argumentam que o Brasil precisa seguir uma trajetória de maior responsabilidade fiscal a fim de voltar a ser atraente para os investimentos, em particular os que vêm de fora. Investidores não se interessam em colocar seus recursos em países cujos níveis de endividamento possam vir a comprometer e dificultar a rolagem de suas dívidas. Quem pensa assim está sugerindo trocar um benefício de curto prazo para a população pobre, a concessão do auxílio emergencial, por outro benefício de longo prazo que seria uma economia forte que gerasse empregos para a maioria das pessoas.
O árbitro deste conflito entre a base da pirâmide social e empresários e investidores é o mundo político, são o presidente da república, deputados e senadores. Apenas eles podem decidir estabelecer ou não a volta do benefício. De um lado há o incentivo do voto e da aprovação em pesquisas, Bolsonaro sabe que sua popularidade melhorou quando o auxílio foi concedido e vem piorando desde sua retirada. Deputados e senadores poderão voltar às suas bases eleitorais ostentando o estandarte de seus votos a favor de um novo auxílio. Do outro lado há também algo real, a credibilidade do país junto àqueles que detém os recursos que permitem a rolagem de nossa dívida. Sem isso, o país sofreria uma profunda crise que afetaria a todos, incluindo os mais pobres.
Os políticos, no momento, pendem para o curto prazo e para o eleitorado. Qualquer um que frequente Brasília e converse com eles sabe que a tendência é por aumento de gastos. Desde o segundo Governo Dilma, com Joaquim Levy à frente do então Ministério da Fazenda, deputados e senadores vêm enfrentando certamente redução do ritmo do aumento de gastos e, talvez, corte de despesas. Para quem depende de gastar a fim de obter votos isso é muito desgastante. Ademais, eles sabem que o presidente Bolsonaro tem a alma de gastador, ainda que pareça apoiar o seu ministro da Economia. Assim, o desfecho mais provável desta disputa é o retorno do auxílio emergencial. Menor do que o concedido em 2020, mas suficiente para piorar a situação das contas públicas do país e melhorar as condições de vida da população.