Uma pesquisa divulgada na segunda-feira, 13, pelo estadunidense Pew Research Center revelou duas informações que à primeira vista podem aparentar contraditórias. Mas não são. Realizado em diversos países pobres (o Brasil não estava entre eles), como Venezuela, México, Índia e Jordânia, o estudo indicou que as pessoas consideram que as redes sociais ajudaram a manter a população informada; por outro lado, em todas as nações, uma porcentagem similar de indivíduos também apontou que a internet permitiu que fosse mais fácil manipular o público com boatos e informações falsas.
Em média, 78% dos cidadãos ouvidos registraram que veem em sites e apps formas de se atualizarem. Assim como 72% disseram que as novas mídias proliferam fake news, mentiras e dados maquiados. Resultou-se ainda em outra só aparente contradição: 75% afirmaram se deparar com novas ideias na web; 68% também destacaram encontrar muito conteúdo falso.
Os dados são diretamente relacionados entre si e exibem as mesmas similaridades no caso de cada país analisado. Sim, as pessoas têm usado WhatsApp, Facebook, Instagram, YouTube para tentar saber o que acontece no mundo. Tanto que um levantamento divulgado em abril pela Google indicou que o público já recorre mais a youtubers do que a jornalistas e notícias para formarem suas opiniões. Uma constatação perigosíssima.
O mar de informações da internet é demasiadamente contaminado por notícias forjadas – como já abordei, inclusive, em uma palestra no TEDx. Logo, o resultado não é extraordinário. O público tem se informado mais sobre… mentiras. Pelo jeito, inclusive ouvindo em demasia seus youtubers favoritos; e, pior, acreditando que estes exprimem fatos, não visões (por vezes deturpadas) particulares da realidade.
Para piorar, uma boa parcela do público não consegue compreender o que lê. No Brasil, segundo levantamento da ONG Ação Educativa realizado em 2018, três em cada dez não aprenderam o suficiente na escola nem para entender a maioria das palavras de um livro. Pode-se facilmente assegurar que uma parcela ainda maior apresenta dificuldade de interpretar aquilo que consegue, em tese, ler.
Uma pesquisa realizada em 2016 pela Universidade Stanford, nos EUA, revela um cenário preocupante. Dentre os mais jovens, os chamados nativos digitais, tão-somente um quarto é capaz de distinguir uma notícia verdadeira de uma fabricada por um qualquer na internet. Assim como 80% nem consegue separar o que é um anúncio em uma rede social do que seria uma reportagem. Além disso, a maioria também não se preocupa com a veracidade de fotos e vídeos nem demonstra habilidade de identificar o viés ideológico no post de um grupo ativista.
As redes sociais se tornaram máquinas globais e quase instantâneas de informações relevantes, assim como daquelas frutos de manipulação, por vezes com fins tenebrosos. Qual é a solução? Em um cenário ideal seria atentar à educação. Aprimorar o aprendizado para tornar as pessoas aptas a saber garimpar pela informação online e digeri-la adequadamente.
No entanto, convenhamos, não vivemos no mundo ideal. E o problema tem tomado tamanha dimensão que as redes sociais já chegaram a ser tidas como ameaças à democracia até mesmo por quem as criou (leia mais no link). Logo, o caminho plausível e próximo é exigir das próprias redes sociais, como do Facebook e do Twitter, que achem ferramentas para driblar esse imbróglio. A exemplo de formas de auxiliar seus usuários a separar a pura mentira dos fatos que circulam.
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Se as empresas não se revelarem interessadas ou capazes de vencer o desafio, aí a tarefa acaba na mão dos governos, que podem quebrar monopólios digitais ou regularizá-los com o rigor de serviços públicos essenciais. Só que o risco aí será outro: políticos raramente são os mais confiáveis para lidar com situações nas quais se envolvem tópicos como veracidade de informações, privacidade individual e controle de dados.
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