Não é possível generalizar. Há exceções à regra. Tanto dentre aqueles que realmente preservam seus próprios valores, quanto dentre os que já são tão grandes na internet (com dezenas de milhões de fãs; e diversos profissionais contratados para apoiá-los) que não vacilam à toa e, já muito ricos, não precisam se vender tão fácil. Porém, repito, são exceções. Numa visão mais ampla, a lógica da opinião de uma boa parcela dos chamados influenciadores digitais – no “descolado”, influencers – é: falo aquilo que me pagarem para falar.
Começou de forma quase inocente. Como quando uma criança via um vídeo de um youtuber abrindo a caixa de um brinquedo, empolgando-se, e falando bem demais (demais!) do produto. Em muitos casos, os elogios exagerados tinham uma razão simples de ser: o tal youtuber era pago, nos bastidores, para exaltar o brinquedinho.
Com o tempo essa lógica passou a contaminar os influenciadores, seja no YouTube, ou no Twitter, ou no Instagram, ou no Facebook, ou em qual rede social for. De brinquedos passaram para filmes e séries de TV – que eram pagos para adorar. Depois, chegou até a propagandas do governo – como quando Lukas Marques e Daniel Molo (do canal Você Sabia?) ganharam um dinheirinho para louvar mudanças realizadas no Ensino Médio. Aí o cenário começou a feder cada vez mais ao perfume dos antiéticos e imorais.
Nas últimas eleições brasileiras, porém, a situação ficou ainda mais preocupante. Revelou-se que diversos políticos contrataram influenciadores, em especial no Twitter, para falar bem deles. A artimanha foi usada para beneficiar vários petistas, como detalhou reportagem de hoje da Folha de S.Paulo, indo de figuras menores como o deputado federal Miguel Corrêa (PT-MG) aos de envergadura, a exemplo de Luiz Marinho, Haddad e Gleisi Hoffmann (PT-PR).
A notícia escancara uma lógica da fama na internet com a qual é preciso se acostumar para, assim, saber peneirar a opinião puramente vendida daquela genuína. Estes tempos obscuros chegaram. É preciso se adaptar a eles.
No assustador caso do PT, uma penca de influenciadores foram pagos, segundo a mesma Folha. Como os tuiteiros Central Feminista (20 mil seguidores) e Esteban Tavares (311 mil).
O que isso mostra? Boa parte (maioria?) dessas figuras da internet só querem saber de poucas coisas: 1. Da fama pela fama, como debati em texto que fiz sobre o documentário “Império dos Memes” (Netflix) 2. Seguidores 3. Glamour (o típico ou um às avessas, em busca da imagem de imperfeição total) 4. Dinheiro e mais dinheiro.
Antes do estouro das redes sociais, havia um muro que separava bem publicidade de conteúdo genuíno. Normalmente se sabia quando alguém estava vendendo algo para você na TV. Assim como quando um famoso qualquer realmente compartilhava sua mais pura opinião – independentemente de qual ela fosse; ou de quão qualificada ou tosca fosse. As relações tecidas com a audiência eram, nesse sentido, mais honestas.
Só que aí surgiram os influenciadores digitais. Ao cortar intermediários com seus fãs (TVs, revistas, jornais, o palco de um teatro etc.), comunicando-se diretamente com eles, começaram a criar conceitos éticos (ou antiéticos) próprios. Sem uma linha moral estabelecida a ser seguida, a maioria adotou a regra do “topa tudo por dinheiro”.
A falta de intermediários trouxe, sim, vantagens. Há muitos benefícios incríveis no advento das redes sociais e dos influencers. Porém, essa transformação do conceito do que é e o que faz uma celebridade também fez nascer tais indagações sobre até onde é honesto o que se mostra nos perfis seguidos por milhões em apps e sites.
Para não cair na ladainha, repare se o que é publicado pelo seu influenciador favorito não parece escrito por um marqueteiro. Se, no perfil que segue, nunca aparecem avisos de “link patrocinado” ou “conteúdo patrocinado” (discriminar o que é pago é sempre uma boa ação). Pois, se não há isso, cabe perguntar “Será que esse famoso não lucra por fora com o que fala, sem deixar isso claro?”. Note ainda se os posts não são muito iguais, quase clones, de outros divulgados por outras celebridades (ou seja, aí todos podem estar sendo pagos por alguém; como foi com o caso do PT nas eleições). No fim, tudo se resume a algo como: não caia em qualquer conto online; seja inteligente.
Contudo, uma boa notícia nisso tudo. Espera-se que tal lógica de venda de opiniões seja cada vez mais exposta – e, talvez, praticada em menor escala.
Até porque, influenciadores estabelecidos, independentemente do espectro ideológico com o qual se alinham (em outras palavras, de Gregório Duvivier a Felipe Neto), têm servido como ótimos exemplos nesse quesito. Esses repudiam a opinião comprada, deixam claro quando fazem propaganda de algo, e separam a publicidade do posicionamento (político, moral etc.) que adotam de forma livre. Isso é ser transparente com o público.
Porém, na falta de um livro de regras, de intermediadores, nada garante que os outros tantos influenciadores (em especial os pequeninos) vão necessariamente seguir os bons modelos.
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