Cientistas descobriram as primeiras tatuagens figurativas de que se tem notícia no mundo, cravadas na pele de duas múmias egípcias com mais de 5.000 anos. Os corpos em que as marcas foram encontradas estão guardados no Museu Britânico, no Reino Unido, e pertencem a um homem e a uma mulher que viveram no período pré-dinástico do Egito, antes do país ser unificado pelo primeiro faraó. Um estudo detalhando a descoberta, publicado nesta quinta-feira no periódico científico Journal of Archaeological Science, afirma que a revelação obriga os cientistas a rever tudo o que se sabe a respeito do surgimento das tatuagens na África.
A pesquisa estima que as primeiras tatuagens datem entre 3351 e 3017 a.C., quase um milênio antes do que os registros mais antigos apontavam até então. Segundo o museu, essas também são as provas mais antigas desse tipo de prática em mulheres e a primeira já registrada em homens.
O corpo masculino, que ficou conhecido como Homem de Gebelein, é considerado uma das múmias com a melhor preservação do mundo e é exibida no museu desde sua descoberta, há cerca de 100 anos. Os arqueólogos acreditam que ele era ruivo e tenha sido assassinado com uma facada nas costas.
No entanto, os pesquisadores nunca haviam prestado muita atenção em duas manchas pretas que se sobrepõem ligeiramente na parte superior de seu braço direito. Agora, uma análise mais aprofundada revela que elas são a representação de um touro selvagem e um carneiro da Barbária. Estas imagens podem ter sido gravadas como símbolo de força e poder.
Os restos femininos, que pertencem à múmia conhecida como Mulher de Gebelein, apresentam quatro pequenas tatuagens em formato de “S” na vertical do ombro. Estas, segundo os cientistas, foram mais difíceis de interpretar – porém, acredita-se que que elas representem bastões utilizados em danças e rituais.
Antes dessa descoberta, os pesquisadores acreditavam que apenas as mulheres modificavam seus corpos por meio de tatuagens. O registro mais antigo desse tipo de prática em homens até então correspondia a uma série de marcas geométricas em uma múmia masculina encontrada por um casal de alpinistas, conhecida como Ötzi. Esses restos datam do quarto milênio antes de Cristo, então, ele deve ter sido aproximadamente contemporâneo às múmias de Gebelein.
O coautor do estudo Daniel Antoine, curador de Antropologia Física do Museu Britânico, afirmou em comunicado que o achado foi possível pelo “uso dos métodos científicos modernos, como o uso do scanner CT, a datação por radiocarbono e imagens infravermelhas”.