Na maioria dos mamíferos, quanto maior o tamanho do animal, maior é a sua expectativa de vida. No caso dos cães, no entanto, essa lógica é invertida. Cachorros menores tendem a viver mais do que os de grande porte – e uma pesquisa apresentada durante o encontro anual da Sociedade para Biologia Integrativa e Comparativa, que ocorreu em Los Angeles, nos Estados Unidos, parece ter encontrado o motivo. A causa mais provável é que a maior concentração de radicais livres de oxigênio presente nos filhotes de raças grandes esteja diminuindo sua expectativa de vida.
Radicais livres
Para conseguir energia suficiente para crescer e realizar suas atividades, o corpo precisa quebrar nutrientes presentes no alimento ingerido. Porém, quando isso acontece, algumas moléculas chamadas de radicais livres também são fabricadas no processo – moléculas instáveis que apresentam um elétron e reagem facilmente, podendo oxidar. O problema desses subprodutos é que eles podem danificar as membranas das células e eventualmente contribuir para o desenvolvimento de câncer e outras doenças. Alguns estudos também sugerem que eles podem contribuir para o envelhecimento, embora essa afirmação ainda não seja consenso entre especialistas.
No intuito de comprovar a teoria de que a diferença na expectativa de vida entre os cães de diferentes tamanhos está ligada a esse processo, Josh Winward e Alex Ionescu, da Universidade Colgate, nos Estados Unidos, decidiram recorrer a testes de laboratório. Eles coletaram oitenta amostras de pele extraídas de partes da orelha, almofadas das patas e rabos de filhotes e adultos de raças grandes e pequenas. Em seguida, cultivaram células desses tecidos e, com a ajuda da fisiologista animal Ana Jimenez, também da universidade, fizeram análises.
Os dados obtidos mostraram que as células de cães adultos apresentavam uma produção de energia e radicais livres parecida, independentemente do tamanho de raça, enquanto no caso dos filhotes a quantidade desses elementos era maior nos de grande porte. Segundo os pesquisadores, isso ocorre porque filhotes de raças maiores têm um metabolismo mais acelerado, já que precisam de mais energia para crescer em comparação aos cães menores – e, mesmo com pouco tempo de vida, os radicais livres já podem causar prejuízos a longo prazo nos animais.
Os resultados são preliminares, porém, se estiverem corretos, os cientistas esperam que, no futuro, possam desenvolver suplementos de antioxidantes (que combatem os radicais livres) para aumentar a expectativa de vida dos cães de grande porte. A ideia da equipe é neutralizar o excesso da substância antes que ela prejudique o desenvolvimento dos filhotes.