Um maciço lago subterrâneo foi detectado em Marte pela primeira vez, o que representa o maior corpo de água em estado líquido já encontrado no Planeta Vermelho, segundo anunciaram nesta quarta-feira 25 cientistas em um estudo publicado na revista Science.
Localizado debaixo de uma camada de gelo marciano, o lago é amplo, com cerca de 20 quilômetros de extensão. A descoberta levanta a possibilidade de que o planeta seja mais propício a abrigar vida do que os astrônomos imaginavam, uma vez que é a primeira evidência de água líquida permanente já encontrada.
“Este é um resultado surpreendente que sugere que a água em Marte não é um escoamento temporário, como revelado em descobertas anteriores, mas um corpo de água persistente que cria condições para a vida durante longos períodos de tempo”, disse Alan Duffy, professor associado da Universidade Swinburne na Austrália, que não esteve envolvido no estudo.
A água líquida é um dos pré-requisitos para o surgimento da vida e por isso um dos principais elementos procurados por cientistas em outro planeta. A descoberta em um dos nossos vizinhos no sistema solar aumenta ainda mais a expectativa de que pequenos microrganismos possam habitar esse lago subterrâneo, indica a pesquisa.
Marte, hoje, é um planeta frio, árido e deserto, mas estudos anteriores sugerem que o astro costumava ser quente e úmido e abrigava muita água líquida há pelo menos 3,6 bilhões de anos. Há até indícios de moléculas orgânicas que podem ter se desenvolvido no planeta naquela época.
Os astrônomos ficaram mais confiantes de que o astro ainda era habitável quando descobriram pequenas gotículas de água que se condensavam em torno do robô Phoenix, um lander (tipo de sonda capaz de aterrissar para investigar de perto as características de um astro) enviado à Marte em 2007. A expectativa aumentou ainda mais quando perceberam alguns traços escuros na superfície do planeta que sumiam e apareciam de acordo com as estações marcianas, o que poderia indicar a presença de lagos.
Ainda assim, todas essas esperanças foram frustradas conforme novas pesquisas questionavam os resultados. Um estudo publicado em novembro do ano passado, por exemplo, sugeriu que as manchas na superfície do Planeta Vermelho não passavam de fluxos de areia.
Confirmação
Apesar de ter sido publicada em um periódico muito reconhecido pela comunidade científica, que faz um rigoroso trabalho de verificação dos resultados antes de qualquer divulgação, nem todos os estudiosos da astronomia e astrobiologia parecem estar convencidos de que a descoberta não será contestada futuramente.
O estudo foi feito com a utilização de um instrumento chamado Mars Advanced Radar for Subsurface e Ionosphere Sounding (Marsis, na sigla em inglês), que fica instalado na espaçonave Mars Express, da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês). Entre 2012 e 2015, a sonda estudou o polo sul do planeta, fazendo medições de como as ondas de rádio refletiam na superfície para descobrir o que havia debaixo das camadas de gelo.
Essas ondas refletiram 29 conjuntos de amostras, criando um mapa que mostrava uma mudança drástica nos sinais quase 1 quilômetro e meio abaixo da superfície. O padrão lembrava muito os lagos encontrados debaixo das camadas de gelo da Groenlândia e da Antártica e os autores do estudo não tiveram dúvidas de que representava água líquida.
Outros especialistas, porém, não puderam confirmar esse mesmo resultado com detecções a partir de outros radares, como a Shallow Radar (SHARAD, na sigla em inglês), um instrumento a bordo da sonda Mars Reconnaissance Orbiter.
“Não vemos o mesmo reflexo com o SHARAD, nem mesmo quando reunimos [milhares] de observações para criar visões 3D”, disse o vice-líder da equipe responsável pelo radar Nathaniel Putzig em um e-mail para a emissora americana CNN.
“Esperamos realizar o mesmo processo de geração de imagens com os dados do MARSIS a seguir. Estou animado para ver como a imagem em 3D esclarecerá a visão dessa detecção e se encontraremos outras semelhantes em lugares diferentes abaixo das calotas polares. “
(Com AFP)