Durante a década de 1960, imagens de satélite mostraram o surgimento de uma pequena cratera na Sibéria, na Rússia. Desde lá, o buraco já triplicou de tamanho, levantando alerta sobre os perigos emergentes do aquecimento global.
Chamada oficialmente de cratera Batagaika, o buraco surgiu por um processo de erosão, após extensa atividade de mineração e desflorestamento na região, ao longo do século XX. Uma vez que esse processo começa não é possível pará-lo. Há, no entanto, um agravante. O aquecimento global, acelerado no ártico, tem feito derreter o permafrost sob a camada de terra, o que tem acelerado o processo de queda das paredes da cova, apelidada de portal para o inferno.
Com formato que se assemelha a uma arraia, o buraco tem cerca de 50 metros de profundidade, 800 metros de largura e 1 quilômetro de longitude. Um artigo publicado no periódico Geomorphology, em junho, estudou o caso, apontando que o aumento anual é de um milhão de metros cúbicos, já somando derretimento equivalente a 14 pirâmides de Gizé.
Qual o perigo do derretimento do permafrost?
O permafrost é uma camada do solo que fica permanentemente congelada, mas as mudanças climáticas têm levado ao derretimento dessas estruturas. Além de provocar erosão, o que pode ser um problema por si só, esse processo também expõe tudo o que ficou estável por séculos ou até milênios em meio ao gelo.
O grande problema é que parte do material que esteve estável é orgânico, como plantas e animais mortos. O descongelamento provoca a decomposição desses seres, o que aumenta ainda mais a quantidade de gases do efeito estufa na atmosfera, em um perigoso ciclo vicioso que acelera as mudanças climáticas. “Há muita coisa que não sabemos sobre esse ciclo de feedback e como ele necessariamente se desenvolverá, mas existe o potencial para que mudanças muito grandes no sistema climático ocorram em uma escala de tempo geológica muito, muito rápida”, disse o geofísico Roger Michaelides ao portal Business Insider.
E os números podem assustar. Em todo o permafrost boreal, existe o equivalente ao dobro de todo o carbono atmosférico. Segundo um estudo publicado no Annual Review of Environment and Resources, o derretimento emitirá, até 2100, o equivalente a uma grande nação industrial.
Há, sempre importante lembrar, um grande problema com que se preocupar.