Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

Por que a maior parte das pessoas perdeu a noção do tempo na quarentena

Estudos realizados no período de isolamento social mostram que a sensação foi completamente alterada durante a pandemia

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h47 - Publicado em 24 jul 2020, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Alarm clock frozen in ice, close-up
    CONGELANTE – Efeito negativo: o stress faz com que os dias se arrastem. (iStock/Getty Images)

    A ordenação dos segundos, minutos e horas dos dias é uma das grandes invenções da história da humanidade, talvez a mais perene de todas. O primeiro registro de povo que marcou a passagem do tempo é dos babilônios, que viveram na Mesopotâmia entre 1895 a.C. e 539 a.C. Eles construíram o relógio de sol, dividiram o dia em doze partes e depois em 24, constituindo o mesmo sistema utilizado até os dias de hoje. Na primeira concepção de um relógio, o momento em que o Sol ficava na exata posição em que não produzia sombra foi marcado como meio-dia, e então deu-se o restante da distribuição das horas entre manhã, tarde e noite. De volta para o século XXI: a forma de vida existente até o início da pandemia do coronavírus colocava outros elementos do dia a dia para auxiliar nos marcos temporais do cotidiano. Havia a hora de ir à academia, de fazer aula de inglês, a pausa garantida por feriados e fins de semana, a rotina do escritório. Com a paralisação das atividades e pouca diferenciação entre o que pode ser feito em um dia útil e numa folga — situação que se agravou ainda mais para quem perdeu o emprego durante a pandemia —, a percepção sobre a passagem do tempo mudou.

    Essa é a principal conclusão de um estudo conduzido pela Universidade Liverpool John Moores, na Inglaterra, que constatou que 80% dos voluntários sentiram alguma distorção na passagem das horas durante a quarentena no Reino Unido, seja a sensação de os minutos escorrerem pelos dedos, seja a de um dia duro e interminável (veja o quadro da pág. ao lado). De acordo com a principal autora do estudo, Ruth Ogden, “a sensação de a quarentena passar mais devagar do que o normal foi associada a idades mais elevadas e à insatisfação com interações sociais”. Uma pesquisa semelhante está sendo conduzida no Brasil pela Universidade Federal do ABC. De acordo com o neurocientista e coordenador do Laboratório de Cognição Humana da instituição, André Cravo, a análise teve início em 6 de maio e a ideia é mantê-la após o fim da quarentena, para comparar os períodos. “O que chamamos de percepção do tempo envolve uma série de fenômenos diferentes, como ritmo, emoções e a memória”, afirma. “Não há outros estudos do tipo para termos como base de comparação. Pela primeira vez, vários grupos distintos estão vivenciando a mesma experiência.”

    arte-tempo

    Por mais que a percepção individual sobre a passagem das horas pareça palpável, há obviamente o elemento físico e imutável que rege o mundo, havendo pandemia ou não. Para o professor de filosofia da Universidade de São Paulo (USP) Osvaldo Frota Junior é essencial lembrar da diferença entre os fenômenos. “O tempo físico transcorre de uma maneira independente das pessoas”, diz. “O subjetivo é a construção, aquele que sentimos pelas nossas experiências.” De acordo com a escritora e ensaísta Rosiska Darcy de Oliveira, autora do livro Reegenharia do Tempo, a mudança brusca impôs a reorganização da vida, que exigiu, por exemplo, a conciliação das atividades do lar, como cuidar dos filhos e da casa, com o trabalho. “Cada segundo é um recurso não renovável”, afirma. “As pessoas estão expostas à dolorosa convivência com a finitude e isso pode estimular que se valorize o que realmente importa.” Para o neurocientista Cravo, um exemplo é o paradoxo das férias. “Quando elas chegam, passam rápido, porque dá prazer”, diz. “Contudo, na memória, a sensação é que muita coisa aconteceu.” A quarentena não é férias, muito pelo contrário. Mas o tempo em casa durante a pandemia certamente deixará lembranças eternas.

    Continua após a publicidade

    VEJA RECOMENDA | Conheça a lista dos livros mais vendidos da revista e nossas indicações especiais para você.

    Publicado em VEJA de 29 de julho de 2020, edição nº 2697

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Veja e Vote.

    A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

    OFERTA
    VEJA E VOTE

    Digital Veja e Vote
    Digital Veja e Vote

    Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

    1 Mês por 4,00

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

    a partir de 49,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.