Desde que o astronauta americano Neil Armstrong pisou pela primeira vez na Lua, em 1969, não se via tanto interesse pelo satélite natural que acompanha a Terra numa dança sem fim. Por enquanto, só a China está presente lá, com o robô Yutu-2, que pousou em 2019 e continua ativo. Em 2022, porém, pelo menos outros cinco países devem enviar missões não tripuladas para explorar a superfície lunar. Estados Unidos e Rússia, herdeira da União Soviética, que começaram a chamada “corrida espacial” nos anos 1950, puxam a fila, com programas ambiciosos de suas respectivas agências, a Nasa e a Roscosmos. Índia, Japão e Coreia do Sul também anunciaram seus próprios planos.
A chegada à Lua, definida por Armstrong como um “pequeno passo para o homem, mas um salto gigantesco para a humanidade”, ganhou novo significado neste início do século XXI. A Estação Espacial Internacional (ISS), cujo planejamento e construção envolveram Estados Unidos, União Europeia, Rússia, Japão e Canadá, tem data para ser desativada — será em 2031. Com isso, o satélite natural tornou-se novamente um destino estratégico, com implicações diretas para a ciência, negócios e geopolítica na Terra. As primeiras missões da nova corrida lunar têm como objetivo estudar o terreno e avaliar a possibilidade de construir ali mesmo estações para receber cientistas e, quem sabe, no futuro, até turistas. Como a viagem é mais longa e exige foguetes e equipamentos mais potentes, é necessário mais investimento e preparação.
O astronauta americano Gene Cernan foi o último homem a pisar na Lua, em dezembro de 1972, como parte da missão Apollo 17. Desde então, a Nasa ensaiou várias vezes a volta das missões tripuladas, sem muito sucesso. Anunciado em 2017, o programa Artemis é a iniciativa mais ambiciosa da agência espacial nesse sentido. Após vários adiamentos, o enorme foguete Sistema de Lançamento Espacial (SLS) deve fazer sua estreia em abril, a depender dos testes que serão realizados em março. A missão, chamada Artemis I, tem como objetivo testar o transporte da cápsula Orion e também levar equipamentos menores, que entrarão em órbita ou serão lançados no solo lunar.
Programada para maio de 2024, a Artemis II será tripulada, mas ainda não pousará na Lua. A Artemis III, prevista para 2025, levará os astronautas — uma mulher e uma pessoa negra — para a superfície lunar com a ajuda da gigantesca Starship, da SpaceX. Entre essas etapas, outros lançamentos garantirão a montagem da Gateway, estação orbital projetada pela empresa franco-italiana Thales Alenia Space. O complexo funcionará como quartel-general das missões, com pontos de observação remotos, laboratórios de análise e centro de estudos científicos.
Rússia e China também querem fincar alicerces na Lua, literalmente. No primeiro semestre do ano passado, os dois países anunciaram planos de cooperação para criar sua própria estação lunar. Os chineses já estão estudando o solo com o rover Yutu-2, mas os russos planejam enviar em julho a sonda Luna 25, com o objetivo de explorar o polo sul, pesquisar recursos naturais e analisar os efeitos dos raios cósmicos na superfície.
Além dessas potências, outros países com menos tradição na exploração espacial fazem suas apostas. “Não é mais apenas uma elite que consegue chegar à Lua”, diz a especialista Victoria Samson, da Secure World Foundation. Em abril, a Jaxa, agência espacial do Japão, planeja mandar para lá o módulo Slim. Em agosto, a Índia programou a missão Chandrayaan-3, que levará por meio de sua agência um robô e um módulo de pouso. No mesmo mês, a Coreia do Sul lançará o Orbitador Lunar Coreano Pathfinder. Os Emirados Árabes Unidos contrataram uma empresa japonesa, a iSpace, para transportar o primeiro de quatro veículos robóticos de exploração. O trânsito na superfície lunar deve ficar intenso, com tantos rovers e plataformas de pouso. O mais decisivo é que trabalhem em harmonia e suas pesquisas tragam benefícios para a continuação da vida aqui na Terra.
Publicado em VEJA de 2 de março de 2022, edição nº 2778