O Sol poderia ter uma estrela-irmã quando se formou, há 4,5 bilhões de anos. Ao menos é o que defende um grupo de astrônomos, que publicou recentemente um estudo na Monthly Notices of the Royal Astronomical Society fornecendo mais evidências para sustentar a teoria, que remonta à década de 1980. Segundo a hipótese, a estrela gêmea, batizada de Nêmesis, em homenagem à deusa da vingança na mitologia grega, mesmo estando muito distante teria impactos negativos na Terra. Alguns cientistas acreditam que ela foi a responsável por redirecionar asteroides em direção ao nosso planeta, inclusive aquele que teria extinto os dinossauros.
A existência dessa “gêmea má”, no entanto, havia sido descartada em 2014, quando satélites infravermelhos da Nasa não encontraram nenhum sinal dela. Mas agora, com o novo estudo, o tema voltou a ser debatido, com novos dados que sugerem que Nêmesis provavelmente existiu, só que se separou do Sol há muitos anos. Se isso for verdade, pode ser que ela esteja vagando até hoje pelo cosmo.
Como nascem as estrelas
No universo, a maior parte das estrelas com massa parecida com a do Sol existe em pares. Os astrônomos ainda não sabem como elas surgem e, para estudar estes sistemas múltiplos (que são chamados de binários) e descobrir como nascem essas estrelas, os cientistas americanos Sarah Sadavoy, da equipe do telescópio espacial Hubble da Nasa no Observatório Astrofísico Smithsonian, e Steven Stahler, da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, resolveram colher dados de Perseus, uma nuvem interestelar gigante, com 50 anos-luz (cada ano-luz equivale a 9,46 trilhões de quilômetros) de comprimento, localizada a 600 anos-luz da Terra, que funciona como um “berçário” de estrelas. Ali estão dezenas de estrelas jovens com menos de 1 milhão de anos, que seriam como “versões-bebê” do Sol.
De acordo com Stahler, os astrônomos sabem há muitos anos que estrelas nascem dentro de casulos ovais, chamados de núcleos densos (dense cores, em inglês), espalhados por essas imensas nuvens de hidrogênio frio e molecular. Vistos por telescópios ópticos, essas nuvens parecem apenas buracos no céu pois a poeira que acompanha o gás bloqueia a luz dos astros no interior e atrás das nuvens. Mas, com o uso de radiotelescópios, é possível examiná-las, já que os grãos de poeira fria emitem comprimentos de onda de rádio que não são bloqueados.
Com as observações, os astrônomos conseguiram fazer um “censo” das estrelas da nuvem. Após o levantamento, os cientistas fizeram simulações de como poderia ter sido o nascimento dessas estrelas, recuando no tempo, e concluíram que, por suas características, todas teriam que ter nascido em duplas. De acordo com o modelo, alguns milhões de anos após o nascimento, 60% delas se separariam, enquanto o restante ficaria ainda mais unida, formando os conhecidos sistemas estelares binários.
“Fizemos uma série de modelos estatísticos para verificar se conseguíamos dar conta da população de estrelas de Perseus e o único que conseguia reproduzir os dados obtidos foi aquele em que todas as estrelas se formaram inicialmente como binárias. Essas duplas ou se separam ou ficam mais próximas em 1 milhão de anos”, explica Stahler. “Segundo nosso modelo, estrelas sozinhas, de pouca massa como o Sol não são assim no início — elas são o resultado da quebra de sistemas binários. Estamos dizendo que, sim, provavelmente a Nêmesis existiu, há muito tempo.”
De acordo com os astrônomos, o Sol teve uma “gêmea”. Essa estrela teria se localizado em uma posição pelo menos dezessete vezes mais distante do Sol que Netuno, o último planeta do sistema solar. Depois de alguns milhões de anos, ela teria se separado para sempre, vagando pelo espaço.
Os pesquisadores ainda não sabem por que alguns sistemas se separam e outros não, mas esperam obter mais dados de redes de telescópios como o ALMA (Atacama Large Millimeter Array), no deserto do Atacama, no Chile, para procurar mais dados que ajudem a solucionar a questão.