Cientistas desenvolveram uma nova interface de comunicação entre cérebro e computador capaz de “ler” pensamentos de pacientes que perderam o movimento de todos os músculos. O estudo, publicado nesta terça-feira na revista científica PLOS Biology, permitiu que quatro pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) conseguissem responder perguntas pessoais com sinais de “sim” e “não”, um impressionante avanço com potencial de melhorar a qualidade de vida de indivíduos com a doença.
“Se pudermos replicar o estudo em mais pacientes, acredito que poderíamos restaurar a comunicação útil em estados de encarceramento total (quando a paralisia atinge até os movimentos dos olhos)”, disse o neurocientista Niels Birbaumer, do Centro Wyss para Bio e Neuroengenharia, na Suíça, um dos autores da publicação, em comunicado.
Comunicação
O cérebro de indivíduos com ELA em estágio avançado perdeu a capacidade de controlar os músculos. Essas pessoas não se movem ou falam, mas não deixam de pensar e, por isso, é possível estabelecer uma comunicação por meio dos movimentos oculares. Contudo, os quatro pacientes que participaram do estudo, três mulheres e um homem com idades entre 24 e 76 anos, não conseguiam sequer mexer os olhos (daí o nome “encarceramento total”). Para testar a capacidade de comunicação dessas pessoas, os pesquisadores desenvolveram uma touca composta de sensores de luz infravermelha capaz de captar variações no fluxo sanguíneo de diferentes regiões do cérebro.
Em diversas sessões, os pacientes usaram a touca e foram treinados para responder “sim” ou “não” a uma série de perguntas gerais, como “O nome da sua mãe é Margarida?” ou “Berlim é a capital da França?”. Conectados a computadores, os sensores passaram a identificar os padrões cerebrais que correspondiam a cada resposta positiva ou negativa.
Assim que os sensores estavam bem aguçados, os pesquisadores passaram a fazer questões mais pessoais. Em um dos casos, a família de um dos pacientes pediu aos cientistas para perguntarem se ele estaria de acordo com o casamento da filha. A resposta foi “não” em nove das dez vezes. Segundo os cientistas, nesse estágio do estudo, a pergunta mais importante foi se estavam felizes com a vida que levavam — a resposta de todos foi “sim”, sugerindo que talvez conviver com a doença não seja tão insuportável quanto os médicos imaginam.
“Inicialmente, fomos surpreendidos pelas respostas sobre a qualidade de vida, mas depois percebemos que, se recebiam cuidados satisfatórios em casa, eles achavam sua vida aceitável. Por essa razão acreditamos que, se essa técnica puder se tornar disponível em hospitais, ela teria um imenso impacto no cotidiano dessas pessoas”, disse Birbaumer.
Confira o vídeo, feito pelos cientistas, em que o paciente de 24 anos confirma o nome da mãe:
https://www.youtube.com/watch?v=Ra8tiFD00c8