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Movimentos tectônicos em Vênus podem ter possibilitado vida primitiva

Estudo abre a possibilidade de existência de vida microbiana e traz novos aspectos sobre a formação do planeta há bilhões de anos

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 26 out 2023, 18h00
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  • Vênus é o planeta mais próximo da Terra, a ponto de poder ser visto a olho nu. A proximidade e semelhança entre os dois os torna quase gêmeos, não fosse o aspecto um tanto quanto infernal de nosso vizinho, que é revestido por lava e tem a superfície coberta por dióxido de carbono e ácido sulfúrico, que causam um efeito estufa, elevando as temperaturas a insuportáveis 460°C, o suficiente para derreter cobre. Contudo, apesar de hoje Vênus ser um planeta devastado e escaldante, seu passado pode ter sido um pouco mais aprazível. De acordo com um estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Brown, nos Estados Unidos, placas tectônicas venusianas podem ter tido movimentos semelhantes aos que aconteceram na Terra primitiva. A descoberta abre a possibilidade para a existência de vida primitiva no planeta. 

    Os pesquisadores criaram uma modelagem computacional para gerar dados sobre a atmosfera de Vênus e demonstraram que sua atual composição e pressão superficial só teriam sido possíveis a partir de um movimento tectônico inicial. Esse processo é essencial para a criação de um ambiente propício para o desenvolvimento da vida. Na Terra, por exemplo, o movimento de placas tectônicas acontece há bilhões de anos, e foi responsável por separar continentes e elevar montanhas, além de conduzir reações químicas que contribuíram para a estabilização da temperatura do planeta, o que é primordial para o surgimento de seres complexos. 

    Vênus, por outro lado, seguiu na direção oposta e hoje é o planeta mais quente do sistema solar. Uma explicação para as altas  temperaturas foi atribuída à chamada “tampa estagnada”, ou seja, uma única placa tectônica com movimentos mínimos, incapazes de gerar reações químicas na atmosfera. Um estudo publicado na Nature Geosciences feito com base em dados recolhidos pela sonda Magalhães na década de 1990, porém, questionava essa explicação. Segundo os especialistas, a situação litosférica de Vênus é de “tampa mole”, com áreas tectônicas ativas. Isso contraria modelos anteriores da “tampa estagnada” ou ainda de uma “tampa episódica”, na qual uma tampa estagnada instável ocasionalmente explode em atividade tectônica.

    Agora, o novo artigo postula que a atmosfera venusiana, rica em azoto e dióxido de carbono, se deu graças a movimentos tectônicos que ocorreram entre 4,5 bilhões e 3,5 bilhões de anos. O artigo sugere que o movimento inicial, assim como aconteceu na Terra, teria sido limitado, tanto no número de placas em movimento quanto na capacidade de deslocamento. “Uma das conclusões gerais é que muito provavelmente tínhamos dois planetas ao mesmo tempo no mesmo sistema solar operando em um regime tectônico de placas – o mesmo modo de tectônica que permitiu a vida que vemos na Terra hoje”, disse Matt Weller, o autor principal do estudo, em nota. 

    A convergência desses eventos nos dois planetas reforça a possibilidade de existência de vida microbiana na Vênus primitiva e amplia ainda mais a semelhança entre os vizinhos, que têm aproximadamente o mesmo tamanho, massa, densidade e volume. O trabalho considera ainda a possibilidade de trabalho intermitente de placas tectônicas. Ou seja, pode ser possível que planetas entrem e saiam de diferentes estados tectônicos e, consequentemente, entrem e saiam da habitabilidade, em vez de permanecerem eternamente habitáveis ou inabitáveis. 

    As próximas missões Da Vinci da NASA vão medir gases na atmosfera venusiana e podem ajudar a solidificar as descobertas do estudo. Entretanto, os investigadores planejam aprofundar uma questão chave: o que teria acontecido com as placas tectônicas em Vênus? A teoria apresentada no artigo sugere que o planeta acabou por ficar demasiado quente e a sua atmosfera se tornou muito espessa, drenando os ingredientes necessários para o movimento. Para os especialistas, a compreensão do destino de Vênus pode contribuir para explicar que condições levariam a Terra a um fim semelhante e o que permite que nosso planeta continue habitável. 

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