Em evento realizado em São Paulo nesta segunda-feira 09, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (Novo), falou sobre a necessidade de garantir o desenvolvimento sustentável da Amazônia como suposta forma de melhoria da qualidade de vida de mais de 20 milhões de pessoas que vivem na região. Durante um almoço realizado pelo Grupo de Líderes Empresariais (LIDE), Salles iniciou o seu discurso, de cerca de 30 minutos, ao pontuar que nenhum assunto será igualmente tratado nas diferentes regiões do país.
De acordo com o ministro, o ponto em comum a todos os biomas seria a necessidade de desenvolvimento sustentável para preservar e conservar o meio ambiente, ao mesmo tempo em que deve ser valorizado o cuidado com as pessoas. “A Amazônia é uma região onde vivem mais de 20 milhões de brasileiros. O que foi feito para eles nos últimos anos? Quase nada. É a região com o pior índice de desenvolvimento no Brasil”, afirmou.
Salles destacou que a maior riqueza de biodiversidade está na Amazônia, que também concentra os piores índices de saneamento. O ministro pontuou que é necessário vislumbrar a floresta em pé como algo muito superior à floresta devastada. “Parece uma obviedade declarar que a floresta vale mais em pé do que derrubada. Para quem está na região, a situação se coloca no dia a dia. Passados 519 anos de Brasil, ela tem 84% do seu bioma conservado”, afirmou.
Em diversos momentos, o ministro citou a chamada “política do avestruz” ao descrever que antecessores políticos escolheram “enfiar a cabeça no buraco” e fingir que atividades ilegais não acontecem em áreas de conservação ambiental. Salles resgatou o exemplo da Floresta Nacional de Carajás, no sul do Pará. “Ela é mantida por recursos da exploração da mineradora Vale dentro de uma área de preservação ambiental, e que faz com que a área seja muito preservada”, afirmou.
O ministro pontuou que a conservação é muito maior do que em áreas onde não há exploração formal alguma, a exemplo de garimpos ilegais. “Esse debate foi vedado, patrulhado e impedido durante muito tempo no país. Enfiar a cabeça no buraco não funcionou”, declarou.
Outra sinalização foi com relação à liberação de grandes obras de infraestrutura, como ferrovias e hidrovias. Salles citou especificamente o caso do Mato Grosso, que está em meio à polêmica sobre a construção da Ferrovia Ferrogrão, que ligará o norte do estado ao Pará.
O processo administrativo da Ferrogrão na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) está suspenso por três decisões judiciais, não podendo seguir ao Tribunal de Contas da União (TCU). Falhas foram identificadas nos estudos de viabilidade econômica, social e ambiental do projeto. A ANTT não ouviu comunidades tradicionais, índios e a sociedade civil organizada. Além disso, a Ferrogrão cortará exatamente a região do conflito atual envolvendo as queimadas na Amazônia e expandirá a fronteira agrícola para o interior do Pará, gerando potencial dano ao coração da Amazônia.
“O escoamento da produção do Mato Grosso tem que dar a volta na América do Sul para chegar à China. Por que não ter uma ferrovia que liga o Pacífico? Toda vez que gastamos recursos para ações desnecessárias, deixamos de gastar com o necessário. Não deixar fazer uma ferrovia é caminhão queimando óleo diesel, estragando a pavimentação, gerando manutenção. Há questões muito importantes que precisam ser debatidas. Não se pode rotular isso como discussão contra o meio ambiente”, declarou o ministro.