Um dos maiores argumentos dos presidentes e primeiros-ministros que barram a entrada de refugiados nos países que governam é o de que o fluxo de imigrantes pode arruinar a economia de uma nação. No entanto, um estudo publicado hoje (20) na revista Science Advances comprovou que abrigar pessoas à procura de asilo está longe de ser um fardo econômico.
Liderado pelo pesquisador Hippolyte d’Albis, da Escola de Economia de Paris, o trabalho se baseou na análise de dados de 15 países da Europa Ocidental coletados entre 1985 e 2015. As informações sobre as quais os cientistas se debruçaram possuíam teor econômico e/ou demográfico, relacionando-se aos fluxos de imigração registrados em cada época.
Em 2015, o continente europeu foi alvo de mais de um milhão de indivíduos buscando refúgio. Desse total, 89% se dirigiram a essas 15 nações, entre as quais estão a França, a Alemanha, a Itália, a Espanha e o Reino Unido.
Os cientistas focaram no estudo as mudanças no PIB per capita, na taxa de desemprego, nos gastos públicos e nos impostos arrecadados. Isso em cenários de ampla entrada de muitos refugiados que afirmavam não poder retornar às suas terras natais, por medo de perseguição. Depois de coletar esses dados, os pesquisadores criaram modelos comparativos para verificar as diferenças encontradas. O primeiro padrão ilustrava uma economia sem grandes variações na migração, enquanto o outro continha informações sobre a economia após um período de fluxo migratório de refugiados.
Os resultados encontrados foram categóricos: a entrada de pessoas em busca de asilo aumentou significativamente o PIB desses países, reduziu o desemprego e melhorou o equilíbrio das finanças públicas. É certo que os governos precisaram de gastos maiores para dar conta de uma quantidade igualmente maior de indivíduos, mas o aumento na arrecadação de impostos foi mais do que o suficiente para compensar essa despesa.
A conclusão foi de que as diferenças positivas significativas no PIB per capita trazidas pelos refugiados duram de três a sete anos, após os quais passam a diminuir. “Depois dos anos que nós indicamos, o efeito de refugiados nesses países é nulo ou, ainda, permanece positivo”, constatou o francês Hippolyte d’Albis, em entrevista a VEJA. Assim, afirmam os cientistas, pode-se perceber que as crises de migração pelas quais passam várias nações ao redor do mundo têm muito mais a ver com política e diplomacia do que com a economia de fato.
Um bom exemplo para verificar os resultados que os pesquisadores encontraram é a Alemanha, atualmente a maior força econômica da Europa. Em 2015, o país abrigou 890 mil refugiados e recebeu quase 500 mil pedidos de asilo político – o maior número da história da nação. Dos que chegaram em 2015, só 9% estava empregado em 2016. Mas, em 2016, 22% dos refugiados que vieram em 2014 possuíam empregos, e 31% dos que chegaram em 2013 já trabalhavam. Isso mostra que, com o passar do tempo, os asilados passam a contribuir com a mão-de-obra do país.
Em 2015, o país gastou mais de 5 bilhões de euros (quase 22 bilhões de reais) com pagamentos relacionados ao bem-estar social (um aumento de 169% sobre 2014). Em 2016, o governo desembolsou mais de 21 bilhões de euros (aproximadamente 92 bilhões de reais) com despesas relativas aos refugiados. Entre esses gastos, acima de 9 bilhões de euros (ou cerca de 39 bilhões de reais) eram ligados a esses indivíduos. Ainda assim, em 2016, o governo federal teve um superávit de 6,2 bilhões de euros (27 bilhões de reais). Para os cientistas da Escola de Economia de Paris, isso indicaria que abrigar essas pessoas não impediu que a economia nacional fosse positiva naquele ano.
Ainda em 2015, uma pesquisa do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica previu que os investimentos atuais em integração podem compensar, nos próximos anos, os gastos com refugiados. Depois disso, o aumento do emprego e do consumo por essas pessoas poderia estimular o crescimento econômico ao ponto de, no melhor dos casos, causar um aumento de 1% no PIB alemão até 2025. Dessa forma, percebe-se que a Alemanha respalda conclusão dos cientistas de que o PIB, assim como a economia de forma geral, pode ser ajudado pela entrada de refugiados.