Fóssil sugere que antepassado jurássico dormia como os pássaros modernos
Postura do esqueleto é semelhante a observada no momento de descanso dos descendestes vivos dos dinossauros
Os pássaros, presentes em todo o planeta, são os últimos representantes vivos dos dinossauros, répteis gigantes que dominaram a cadeia alimentar por milênios. Esse conhecimento não é exatamente novo, mas, por enquanto, cientistas ainda têm dificuldade de estabelecer a ligação evolutiva entre os dois animais. Um fóssil descrito agora pode ajudar a elucidar essa relação.
Chamado de Jaculinykus yaruui, o animal teve seu esqueleto quase completamente preservado. O curioso, no entanto, é que ele foi eternizado com o pescoço curvado para trás e a cabeça encostada no tronco, numa posição muito parecida com a que os pássaros modernos adotam para dormir. “Esta postura já havia sido encontrada anteriormente em algumas espécies de dinossauros, mas elas eram bem mais próximas filogeneticamente dos pássaros atuais do que esta espécime”, afirmou à VEJA o pesquisador da Universidade de Hokkaido, no Japão, Kohta Kubo, autor do artigo publicado nesta quarta-feira, 15, no periódico científico Plos One.
O fóssil foi encontrado em 2016, no sudoeste do deserto de Gobi, na Mongólia, e pertence à família dos Alvarezsauridae, que viveram entre o final do período jurássico até o cretáceo tardio (entre 160 e 66 milhões de anos atrás). Esses dinossauros bípedes são voavam e, por isso, não podem ser considerados pássaros primitivos, mas eles pertencem à subordem dos terópodes, grupo do qual fazem parte as aves contemporâneas e que são considerados mais bem sucedidos entre os répteis primitivos.
O achado arqueológico surpreendeu os pesquisadores por mostrar que essa postura, observada hoje no momento de descanso dos descendentes vivos dos dinos, está presente há muito mais tempo do que se acreditava. “As descobertas do nosso estudo fornecem mais evidências de que as características das aves se distribuíram amplamente entre os ancestrais desses animais”, diz Kubo.
O trabalho acrescente novidades ao arcabouço de informações trazidas a tona em 2023. Em um trabalho publicado em agosto, na Nature, pesquisadores brasileiros descreveram uma nova espécie de lagerpetídeo com bico muito semelhante ao das águias vistas hoje e, poucas semanas depois, um grupo chinês descreveu o Fujianvenator prodigiosus, uma espécie de terópode de pernas longas que pode ter sido um dos elos entre os dinossauros e as aves. São testemunhos da ciência sendo feita em tempo real.