Vlad III, mais conhecido como Vlad, o Empalador, foi um príncipe do século XV e seu reinado de terror em Valáquia, na Romênia, pode ter inspirado a criação do vampiro literário mais famoso da história: o Conde Drácula. Isso porque Vlad se tornou famoso por torturar seus inimigos e teria sido responsável pela morte de aproximadamente 80 mil pessoas, boa parte por empalamento, o que justifica seu título. Agora, um exame científico inédito de suas correspondências traz novas informações sobre a saúde dessa figura controversa. As evidências sugerem que o príncipe empalador pode ter tido problemas respiratórios e de pele, além de uma doença rara que o fazia chorar lágrimas de sangue.
Vlad III foi voivoda, título que simboliza a mais alta patente militar, da região de Valáquia e viveu no sul da Romênia em meados de 1400. Embora não haja evidências históricas do consumo de sangue por parte do obscuro príncipe, ele teria sido uma figura cruel, e por esse motivo teria sido inspiração para a lenda do Conde Drácula. Além do título de empalador, conquistado graças à sádica tortura imposta a seus inimigos, que consistia em inserir uma estaca no corpo da vítima e deixá-la para morrer, Vlad também atendia pela alcunha de Vlad Drăculea. O apelido, que pode ser traduzido como “filho do dragão”, alimenta ainda mais as associações entre o voivoda e o vampiro da história escrita por Bram Stoker (1847-1912) em 1897.
Embora mais de 500 anos tenham se passado desde o reinado do impiedoso príncipe, ainda restam algumas relíquias de seu legado, incluindo três cartas escritas por ele entre 1457 e 1475. Esse conjunto permaneceu como um verdadeiro repositório de proteínas ao longo dos séculos, e agora pode ser analisado com a ajuda de técnicas laboratoriais que não podiam ser sequer imaginadas pelo famoso governante.
A caracterização das proteínas extraídas destes documentos permitiu explorar as condições ambientais da segunda metade do século XV em Valáquia, região considerada ponto de encontro de soldados, migrantes e viajantes que transportavam não só bens comerciais e tradições culturais, mas também doenças e epidemias. “A identificação dos peptídeos e proteínas humanas colhidas nas cartas também nos permitiu descobrir mais sobre Vlad Drácula, o Empalador”, escrevem os autores.
Para analisar o material, os pesquisadores da Sociedade Americana de Química usaram etileno acetato de vinila (EVA) para extrair as proteínas das cartas sem danificá-las. O material foi então analisado a partir da espectrometria de massa, o que permitiu caracterizar proteínas de diferentes períodos e origens. Com essa identificação, a equipe se concentrou naquelas que apresentavam características de degradação mais avançadas, o que aumentaria a chance de terem sido deixadas por Vlad III, visto que proteínas menos degradadas, portanto mais jovens, poderiam ser de pessoas que manusearam as cartas de Vlad posteriormente. “Não podemos negar que pessoas medievais podem ter tocado nesses documentos”, diz o estudo. “ Mas também é presumível que as proteínas antigas mais proeminentes devam estar relacionadas ao Príncipe Vlad, o Empalador, que escreveu e assinou essas cartas”.
Ao todo, foram encontradas 16 proteínas humanas. A análise desse material indica que Vlad III teria sofrido com processos inflamatórios do trato respiratório e da pele. Além disso, é possível que o príncipe romeno tenha convivido com uma condição rara chamada hemolacria, que o faria chorar lágrimas de sangue. O que pode ter contribuído ainda mais para seu caráter mítico. Outras proteínas indicam que ele pode ter sido exposto a certas bactérias relacionadas à peste ou mesmo a moscas-das-frutas.
Apesar das lendas acentuarem o caráter sádico de Vlad III, o príncipe medieval se tornou uma espécie de herói nacional da Romênia, onde também é conhecido por defender o país de invasões estrangeiras, fossem elas ataques de soldados turcos ou mercadores alemães. O príncipe empalador se tornou, de certa forma, imortal, embora não da forma sugerida por sua inspiração literária.