Em um caso raro da medicina, um paciente sofreu um derrame e, durante a recuperação, experimentou um efeito colateral curioso: quando via algum objeto em cores cromáticas, como vermelho, azul, verde ou amarelo, ele não era mais capaz de nomear o tom que enxergava.
O evento inesperado foi utilizado como base para um estudo publicado no terça-feira 3, na revista cientifica Cell Reports, que buscou investigar mais a fundo a relação entre linguagem e a visão humana, sobretudo no que trata do entendimento das cores. A principal dúvida dos pesquisadores era se as palavras mudam a forma como percebemos os objetos ou elas apenas nomeiam o que nós percebemos.
Depois do derrame, o paciente que enxergava cores normalmente adquiriu uma lesão na parte esquerda do cérebro. Aproveitando a oportunidade singular proporcionada pela situação, os cientistas testaram uma hipótese antiga, segundo a qual os nomes das cores estariam guardados no hemisfério esquerdo do cérebro e, portanto, a forma como enxergamos o gradiente de cores depende dele.
O enfermo só conseguia dividir as cores em categorias como escuras e claras, ainda que não soubesse nomear todas elas. Assim, o estudo concluiu que, diferentemente do que se pensava, a categorização de cores está distribuída pelos dois lados do cérebro. Se não fosse assim, o paciente não teria conseguido distinguir matiz algum.
Sua capacidade de denominar os tons conhecidos como acromáticos, como branco, preto e cinza, não foi afetada, o que surpreendeu os pesquisadores. A descoberta aponta que o nosso sistema linguístico processa essas cores de forma diferente das cromáticas, como vermelho, azul e verde.
A pesquisa levanta a questão: se não da linguagem (isto é, do hemisfério esquerdo), então de onde vêm as categorias segundo as quais os nossos cérebros dividem os tons que enxergamos? Os cientistas envolvidos no estudo pretendem continuar a pesquisa.