Pela primeira vez, um animal não humano foi observado aplicando uma planta medicinal sobre um ferimento. Embora o uso de folhas e insetos para aliviar dores e infecções parasitárias já fosse documentado na natureza, um ser selvagem nunca foi visto utilizando vegetais com compostos ativos para tratar lesões como essa.
O animal em questão, nomeado Rakus pelos pesquisadores, se tratava de um Orangotango-de-sumatra selvagem, uma espécie de macaco bastante próxima evolutivamente dos humanos. Ele foi observado por biólogos macerando folhas de Fibraurea tinctoria e aplicando sobre um ferimento na face. A planta trepadeira é conhecida na medicina tradicional por suas propriedades anti-inflamatórias e antibacterianas, entre outras.
Além do tratamento tópico, como são chamados os medicamentos aplicados diretamente sobre a pele, o animal ainda ingeriu algumas folhas e passou mais tempo descansado. “Esta e outras espécies relacionadas que podem ser encontradas nas florestas tropicais do Sudeste Asiático são conhecidas por seus efeitos analgésicos e antipiréticos”, disse a autora do estudo e cientista do Instituto Max Planck, Isabelle Laumer, ao site do centro de pesquisa. “O sono também tem um efeito positivo sobre a cicatrização de feridas.”
Como isso muda o que sabemos?
O achado, publicado nesta quinta-feira, 2, na Scientific Reports, chamou atenção dos pesquisadores, pois sugere que esse tipo de comportamento surgiu evolutivamente em algum dos ancestrais comuns entre os humanos e os macacos. “O comportamento de Rakus parecia ser intencional, pois ele tratou seletivamente seu ferimento facial na parte direita do rosto, mas em nenhuma outra parte do corpo”, disse Laumer. “O comportamento também foi repetido diversas vezes, não só com o suco da planta, mas também com material vegetal mais sólido, até que a ferida ficasse totalmente coberta.”
Rakus foi observado na Indonésia, enquanto os pesquisadores estudavam cognição e comportamento animal. Eles ressaltam que, embora essa tenha sido a primeira observação do tipo, é possível que esse seja um comportamento usual, mas que não tinha sido visto antes pois não é tão comum encontrar esses animais machucados. No passado, no entanto, comportamentos semelhantes foram observados, com o consumo e a aplicação de plantas e insetos para tratar dores e desconfortos.