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Descobertas as primeiras chuvas de meteoros ‘brasileiras’

Os dois fenômenos, identificados pela Rede Brasileira de Observação de Meteoros, foram reconhecidos oficialmente na última semana

Por Julia Moura Atualizado em 4 jun 2024, 18h08 - Publicado em 29 mar 2017, 08h33
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  • Um grupo de astrônomos amadores descobriu as primeiras chuvas de meteoros “brasileiras”. Os fenômenos, batizados de Epsilon Gruids e August Caelids, podem ser vistas em todo o hemisfério Sul, mas são consideradas nacionais por terem sido identificadas Brasil. As descobertas foram reconhecidas pelo Meteor Data Center, órgão ligado à União Astronômica Internacional (UAI), na última semana. Assim, eles passam a fazer parte da lista mundial de chuvas de meteoros. O achado é fruto do trabalho da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (Bramon, na sigla em inglês), composta de 54 astrônomos amadores e profissionais.

    Os novos fenômenos são um incentivo à observação de meteoros, área da astronomia que não era muito forte no Brasil antes do surgimento da Bramon, em 2014. Vasculhar o céu em busca desses corpos celestes é importante não apenas para a identificação das chuvas de meteoros, mas também para produzir e fornecer dados científicos a respeito do céu do Hemisfério Sul, que podem ser base para várias descobertas.

    “No Hemisfério Norte esse tipo de observação existe há 218 anos. No entanto, no Hemisfério Sul, ela é rara. A primeira identificação do fenômeno na parte Sul do globo foi feita na Nova Zelândia há pouco tempo, por uma rede de observação que não está mais ativa. Em três anos, esse é o primeiro resultado do Brasil”, disse Carlos Di Pietro, um dos fundadores da Rede.

    Estrelas cadentes

    Desde que surgiu, a rede de observação de meteoros tem gravado o céu em dezenove Estados brasileiros, do entardecer ao amanhecer. O trabalho é feito por meio de câmeras simples apontadas para o céu que costumam ser instaladas no telhado das casas dos pesquisadores. As imagens capturadas são transmitidas para computadores, nos quais são selecionadas e classificadas por um software disponibilizado pela Rede. No fim de 2016, membros da organização reuniram todos os dados dos mais de 86.000 meteoros já registrados para análise. Por meio de cálculos estatísticos, observaram que um conjunto de meteoros parecia surgir de um único ponto no céu — o que poderia caracterizar uma nova chuva de meteoros.

    Cálculos complexos precisaram ser feitos para identificar o fenômeno. A tarefa foi conduzida por Lauriston Trindade, técnico de química e membro da Bramon. “Foram dezenas de leituras de artigos para que eu pudesse compreender quais eram os cálculos exatos envolvendo milhares de meteoros. Ferramentas matemáticas tiveram que ser totalmente desenvolvidas para facilitar o trabalho. Foi um mês dedicado às análises. Para a alegria de todos, não só foi possível validar o primeiro grupo descoberto, a Epsilon Gruids, como acabei encontrando um segundo grupo válido, a August Caelids”, disse Trindade, em comunicado.

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    Como todas as chuvas de meteoros, Epsilon Gruids e August Caelids são resultado da combustão das partículas deixadas por resquícios de cometas que atingem a atmosfera terrestre (por isso, durante o evento pequenos pontos brilhantes parecem “despencar” do céu e recebem o nome de estrelas cadentes), e acontecem anualmente. A primeira, segundo os relatórios da Bramon, deve riscar os céus no início de junho e a segunda, no início de agosto.

    Elas receberam esses nomes pois as chuvas de meteoros ganham o nome da constelação de onde elas parecem se originar, o que os astrônomos chamam de “radiante” — a chuva de meteoros Epsilon Gruids parece surgir próximo à constelação do Grou (Gruids, em latim), que fica ao lado da estrela Epsilon Crucis. Já os meteoros da August Caelids parecem surgir da constelação do Cinzel (Caelids, em latim) e, como ocorrem em agosto, ganhou o nome do mês em latim.

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    Para descobrir qual a frequência de meteoros (o número de “estrelas cadentes” observáveis em uma hora) e de qual cometa as chuvas se originaram, os pesquisadores da Bramon devem buscar mais dados nos próximos meses. “Já sabemos que elas não vieram de nenhum dos cometas conhecidos. Quem irá nos auxilar nessa identificação é o astrônomo Cristóvão Jacques, membro da Rede e do observatório Sonear, em Minas Gerais”, disse Carlos.

    Como observar as chuvas de meteoros “brasileiras”

    Quanto menos iluminação no céu, melhor a observação das chuvas de meteoros. Os astrônomos aconselham que a visualização seja a olho nu e feita longe de grandes centros urbanos, para evitar a poluição luminosa e atmosférica que atrapalham a visão do fenômeno. O uso de binóculos e lunetas, por sua vez, não é recomendado, já que esses instrumentos limitam muito o campo de observação.

    Meteoro epsilon Gruids
    Meteoro epsilon Gruids (BRAMON/Divulgação)
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    Tanto a Epsilon Gruids quanto a August Caelids são brilhantes o suficiente para serem vistas nos céus de todos os Estados do Brasil. Para observá-las, o mais indicado é procurar uma região com o céu bem escuro e olhar para a porção do céu onde estão localizadas as constelações de onde os meteoros parecem surgir. Quem está mais ao norte do país deve olhar em direção ao Sul e quem está na região sul precisa olhar diretamente para cima, no topo do céu.

    O melhor horário para as observações é da meia noite até antes do amanhecer, período em que os meteoros são mais brilhantes. Para ver a Epsilon Gruids, a mais luminosa das duas chuvas de meteoros, a melhor data é a noite de 11 de junho, quando o fenômeno atinge seu ápice. A August Caelids, menos luminosa, chega ao auge em 5 de agosto. Para encontrar as constelações, aplicativos de observação celeste, como o Sky Map, podem ajudar. 

     

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