No início do século XIX, Albert Einstein previu que quando grandes objetos se movimentavam pelo espaço, eles perturbavam a camada de realidade conhecida como espaço-tempo, espalhando ondas por todo o universo. Essa teoria era tão abstrata, na época, que por décadas essa ideia foi questionada por cientistas, mas, nos últimos anos, a física tem mostrado cada vez mais que as hipóteses de físico alemão fazem sentido. Nesta quinta-feira, 29, mais uma dessas provas veio à tona.
De acordo com um artigo publicado no periódico científico The Astrophysical Journal Letters, pesquisadores voltaram a ouvir as chamadas ondas gravitacionais. “Esse é um marco importante”, disse Michael Cavagnero, diretor do Centro de Fronteiras Físicas da Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos em comunicado publicado no site do grupo de pesquisas.
Para isso eles observaram os pulsares, estrelas mortas que enviam flashes de rádio pelo Universo de maneira constante, como um farol. A regularidade é tamanha que os cientistas conseguem saber exatamente quando elas vão chegar à Terra.
Como esses corpos supermassivos conseguem distorcer a camada que sustenta o Universo, eles fazem com que a distância entre o planeta e esses pulsares se altere, mudando ligeiramente essa regularidade.
Em 2015, pesquisadores detectaram pela primeira vez essas ondas de alta frequência derivadas do fenômeno descrito pela Teoria da Relatividade. Ondas de baixa frequência, contudo, nunca tinham sido detectadas.
Os sons de maior velocidade, como os que foram ouvidos previamente, se originam de pequenos buracos negros de colidem, por exemplo. Os mais lentos, por outro lado, como o que foi observado agora, derivam de objetos maiores, como aqueles com massas milhões de vezes maiores que a do Sol.
De acordo com os cientistas, essas ondas são como ruídos de fundo sempre presentes no Universo, mas eles são difíceis de serem detectados por possuírem ciclos muito longos. A descoberta mais recente só foi possível através da análise de dados captados ao longo de 15 anos por grandes telescópios de rádio, um esforço que contou com a colaboração de mais de 190 cientistas.
Essa análise permitiu a detecção dessa alteração na regularidade dos pulsares, uma forte evidência da passagem das ondas gravitacionais. Essa pesquisa ainda permitiu observar que esses sons são mais altos do que se acreditava. “Uma possibilidade é que o sinal esteja vindo de pares de buracos negros supermassivos, com massas milhões ou bilhões de vezes maiores que o nosso Sol”, disse Sarah Vigeland, da Universidade de Wisconsin-Milwaukee, no mesmo comunicado. “À medida que esses gigantescos buracos negros orbitam um ao outro, eles produzem ondas gravitacionais de baixa frequência.”
Por enquanto, a tecnologia ainda não permite compreender onde esses pulsos estão sendo originados, mas só a evidência de que eles realmente existem já é uma grande evolução. “Estamos ansiosos para descobrir quais segredos eles revelarão sobre o nosso Universo”, afirma Stephen Taylor, um dos coautores do artigo.