No final do mês de Abril, a Academia Chinesa de Ciências (CAS, na sigla em inglês) lançou o mais novo atlas da Lua. Quase cinco décadas após a organização do primeiro mapa, fruto da missão americana Apollo, o lançamento incorpora toda a evolução científica produzida desde lá para estruturar um documento ainda mais completo e preciso. Em entrevista a VEJA, o astrônomo da CAS, Jianzhong Liu, falou sobre o processo de criação do novo mapa, as novidades trazidas por ele e o que o mapa representa para a China em meio à nova fase da corrida espacial.
Para Liu, um dos pesquisadores envolvidos na criação do atlas, o documento oferece uma fundamental atualização, que deve dar suporte para novas missões e, mais importante, para o estabelecimento de uma base permanente no satélite. Ele defende ainda que a documento é mais um entre os pioneirismos chineses do campo de exploração espacial.
O que é esse novo atlas lunar? O mapa geológico lunar é uma representação mais compreensiva da superfície rochosa da lua. Sua cronologia, estrutura geológica, atividade magmática, distribuição mineral, etc. É o resultado de pesquisas em diversas áreas, sendo a forma mais intuitiva e expositiva das conquistas geológicas lunares.
Qual é a importância de um mapa detalhado da Lua? É um dado básico essencial para pesquisas científicas lunares, exploração futura da Lua, seleção de locais de pouso e construção de bases lunares.
Já existia um atlas antes, correto? Os Estados Unidos compilaram mapas geológicos lunares durante a era Apollo. Após a implementação dessa missão, uma grande quantidade de amostras retornadas e valiosos dados de exploração remota e in situ foram obtidos. No final do século passado, outra onda de febre de exploração lunar eclodiu internacionalmente, e a China começou a implementação do projeto de exploração lunar Chang’e, obtendo uma enorme quantidade de dados de exploração remota de alta precisão. Desde a era Apollo, no entanto, esses dados todos não foram reorganizados sistematicamente.
Qual é a principal evolução deste atlas em comparação com a versão anterior? Em primeiro lugar, o novo atlas é o mais abrangente e mais preciso atualmente. Em segundo lugar, o conteúdo e o método de representação da superfície são diferentes, fornecendo informações mais ricas. Em terceiro lugar, os tipos de rochas e estruturas no mapa anterior são muito menores do que em nosso novo mapa geológico. Finalmente, para expressar o conteúdo recém-adicionado, e equilibrar a estética e a informação científica, redesenhamos as ilustrações, legendas e padrões de cores – como resultado, nosso atlas tem cores mais ricas mantendo rigor científico.
Quais foram os principais desafios na construção deste novo Atlas? Estabelecer uma cronologia geológica [uma espécies de história evolutiva das rochas], estabelecer um sistema de classificação estrutural e rochosa, identificar limites rochosos e de bacias de impacto que foram degradados com o tempo e, por último, criar um novo sistema de representação gráfica que possibilite a identificação de todas essas novas informações.
Onde este feito coloca a China no campo da ciência e exploração espacial? Atualmente, a exploração lunar da China alcançou várias lideranças, incluindo o primeiro pouso suave no lado oculto da Lua e o primeiro retorno da amostra de basalto jovem. O atlas lunar também é atualmente o mais preciso. Portanto, a exploração lunar da China está em um nível de liderança mundial em certos campos. O país, no entanto, ainda não alcançou o pouso lunar tripulado, e o número de variedades de amostras retornadas não são tão abundantes quanto ao dos Estados Unidos. No geral, o país ainda está em uma fase de constante acompanhamento e superação no campo da exploração lunar.
Como o novo mapa deve auxiliar na exploração espacial? O novo mapa, mais preciso, deve ajudar na seleção de locais de pouso, na navegação e planejamento de trajetória para sondas móveis, como rovers lunares, e no estabelecimento de objetivos e tarefas, já que essas escolhas são feitas com base em estruturas geológicas e tipos de rocha de interesse exploratório.
É possível que ele ajude a entender melhor a possibilidade de vida fora da Terra? De acordo com pesquisas atuais, há uma falta de condições para a formação, desenvolvimento e sobrevivência da vida na Lua, então os mapas geológicos lunares não expressam conteúdo relacionado à vida extraterrestre.
Ele também vai ajudar a estabelecer bases permanentes no satélite? Sim, através da avaliação da seleção de locais, já que base lunar precisa ser estabelecida em um local geologicamente estável, rico em recursos, com boas condições de comunicação e fácil acesso. Além disso, ele auxilia em em projetos de infraestrutura, ajudando a compreender a estabilidade de estruturas subterrâneas, propriedades mecânicas do solo e outras informações cruciais para atividades de engenharia lunar.
Quão perto estamos disso? A Base Internacional de Pesquisa Lunar está prevista para se concretizar em meados da década de 2030 no polo sul da Lua para exploração científica e exploração de recursos.